Homilia - 22/11/2015 - Solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo, Rei do Universo
Hoje é o último dia do ano litúrgico, o que não coincide com o ano civil, que termina no dia 31 de dezembro. Sempre, nesse último domingo, a Igreja celebra a solenidade de Jesus Cristo, Rei do Universo. Nesse tempo litúrgico fomos acompanhados pelo evangelista Marcos que, Domingo após Domingo, foi nos colocando no caminho de Jesus Cristo, para que nos tornássemos seus discípulos e discípulas. Hoje, concluímos essa caminhada celebrando o Reinado de Deus que Jesus trouxe ao mundo. E, é interessante perceber que a conclusão desse Ano Litúrgico coloca Jesus, o nosso Rei, sendo julgado pelo poder do mundo. Pilatos representa o poder humano e terreno que, diante da multidão, julga se Jesus de fato é ou não é rei.
A confirmação de sua realeza diante de Pilatos se dá em um momento dramático quando Jesus está totalmente só e indefeso, pois os amigos mais chegados o abandonaram, o povo a quem ele saciou a fome, instigado pelas lideranças, havia pedido a sua condenação, preferindo libertar Barrabás. É, portanto, um momento de fracasso total e vergonhosa humilhação sendo assim, nessas condições totalmente desfavoráveis, que Jesus confirma que é rei.
Jesus é de fato o Rei no mundo de hoje? Com certeza, podemos afirmar que nosso mundo está passando por cima do nosso Rei. Que reinado é esse onde se ridiculariza a Palavra do Rei deixada no Evangelho, onde se despreza o seu testamento do amor, onde a corrupção e a ganância se alastram por toda parte, onde até pessoas inocentes são massacradas em nome de Deus (Allah)?
Pilatos perguntou a Jesus se ele era rei. Ao dizer: “Meu Reino não é daqui”, Jesus deixa claro que ele é um Rei diferente. E por quê? Porque é um Rei defende outros valores e outras verdades. É um Rei que não usa de força nem de violência para conseguir seus objetivos. Não é um Rei que mostra seu poder desfilando diante de nós (como nos desfiles militares) para exibir a força bélica, armas e munições que ameaçam a vida com a morte a quem não se submeter ao seu poder. Esse não é o Reino de Jesus; não é desse mundo e, por isso, não age com as forças do mundo. Às vezes até gostaríamos que agisse desse modo, manifestando-se pela força ou pelo espetáculo. Mas, não; ele é diferente. Jesus é um Rei que não oprime, que não explora, que não engana seus súditos.
Em que consiste o poder do Reino de Deus?
O Reino de Jesus é um Reino de amor, de justiça, de paz e de fraternidade. Um Reino onde os direitos são iguais e respeitados. Um Reino onde as pessoas não são valorizadas pela cor, posição social ou conta bancária.
Esse Reino existe, não é uma utopia?
O poder de Deus é um poder que age entre nós para promover a vida. É por isso que Jesus compara o seu Reino a um pouco de fermento colocado na massa de pão para levedar a massa, para fazer crescer a massa (Mt 13,13). A gente não vê o fermento agindo, mas vemos a massa crescendo, e entendemos que o fermento está fazendo efeito. Esse é o poder do Reino de Deus. O fermento que faz levedar a massa é o amor em nossas famílias, a dedicação a favor da vida de milhões de pessoas, o trabalho silencioso de milhões de pais e mães que cuidam de seus filhos ou de seus idosos... Essa é a força de Deus, esse é o poder de Deus. Silenciosamente defende e promove a vida pelo amor, pela dedicação fraternal a necessitados. É o Reino da partilha e da comunhão.
“Venha a nós o vosso Reino!” Essa é a súplica que fazemos na oração que o Senhor nos ensinou.
Com podemos fazer acontecer o Reino entre nós?
Deve começar aqui na terra, na nossa família, na comunidade e estender-se por toda a parte. Nesse Reino, autoridade é serviço. Quem é o maior e primeiro, se faz o menor e o último.
Com essas palavras Jesus quis dizer que você e eu temos de imitar e seguir os seus passos, jamais podemos tiranizar os nossos irmãos. Jesus é um Rei que lavou e beijou os pés dos discípulos. Os reis do mundo fariam isso? Eis aí a diferença entre o reinado de Jesus e o reinado desse mundo!
Com aquele gesto, O Rei Jesus nos convida hoje a seguir o seu exemplo, nos convida a segui-lo por essa trilha. Ele nos convida a seguir não a estrada asfaltada, não o caminho da glória, mas da humildade; não o caminho do sucesso a qualquer custo, mas da fidelidade a todo preço; não a estrada das honras, mas do serviço.
Esse é o Reino que nós pedimos. Quando pedimos isso estamos querendo fazer uma “revolução” em nosso mundo, em nossas relações. Lembrem-se que o Papa Francisco disse aos jovens na Jornada Mundial da Juventude no Reio de Janeiro: “Sejam revolucionários”. No Reino de Deus não cabe injustiça, violência, fome, miséria, disputas, consumo exagerado, destruição da natureza. No Reino de Deus não se concebe que um irmão seja lobo do outro.
Jesus é o seu Rei? Jesus está reinando em sua vida? Você deixa Jesus governar a sua vida?
Nossa vida começa aqui com á Vida da Graça e culminara com a Vida na Glória. Cada um de nós pode escolher o seu caminho, questão de opção. Tudo vai depender dessa escolha. Lamentável é a escolha pelo atalho que distancia de Deus.
Atualmente, estamos chocados quando vemos milhares de jovens escolhendo organizações onde há violência, destruição, abusos, guerra, ódio, comportamentos irracionais. Que Deus é este que leva seus fieis à morte do “martírio” programado por atos terroristas?
Nesta solenidade de Jesus Cristo Rei do Universo, peçamos insistentemente que seu Reino venha a nós. Mas, não nos iludamos: ele não cairá dos céus. Jesus já o estabeleceu entre nós e nos deixou como seus herdeiros para fazer o Reino acontecer.
A Igreja hoje também comemora o Dia dos Leigos. É o dia dos cristãos leigos e leigas que, unidos pela mesma fé, batalham pela transformação desse mundo dominado pelas forças do mal.
Caríssimo. Você também está convidado a fazer parte desse grupo. O grupo daqueles que pelo batismo são vocacionados, são chamados a ser o fermento na massa, e luz para o mundo o qual está mergulhado nas trevas; são os convocados a construir um mundo possível e necessário, um mundo que virou as costas para o seu Rei, e por isso sofre. Sofre os horrores da violência, e da inversão dos valores, e está exposto ao poder de satanás. Precisamos continuar lutando para que esse mundo gire em torno dos valores anunciados por Jesus, os valores do reino de Jesus Cristo.
Jesus é Rei e somos reis. O seu e o nosso poder é o amor: “Nisto reconhecerão que vocês são do meu Reino, se vocês se amarem uns aos outros.” (Jo 13,35)
Frei Gunther Max Walzer