Homilia - 03/01/2016 - Epifania do Senhor
Hoje, celebramos a festa da Epifania: essa palavra estranha vem do grego e significa "manifestação”. Mas, que manifestação é esta? Deus manifesta-se a todos os povos através de Jesus. Ele é o SALVADOR que veio para todos os povos e nações.
Na liturgia, trata-se da manifestação divina, que acontece através do esplendor da luz que ilumina as trevas, da luz que ilumina nossa vida e nos revela a resposta a tantas dúvidas, perguntas e questionamentos que surgem e, às vezes, perturbam nossa vida.
Acabamos de festejar as grandes festas do fim do ano, Natal e Ano Novo. festas de muita luz e muito brilho. A cidade está cheia de luzes. Não só para iluminar a noite, mas também para nos indicar rumos na busca da sonhada felicidade e da verdadeira paz. Muitas vezes, ficamos ofuscados por tantas luzes. As propagandas, através de anúncios luminosos, oferecem uma felicidade ilusória. A televisão é outra que não economiza as luzes da publicidade, oferecendo produtos que prometem a satisfação de necessidades nem sempre reais.
Parece que fomos enganados pelo esplendor de tantas luzes enganadoras. No lugar de luzes as trevas apareceram. No nosso caso, as trevas da corrupção e da crise econômica se manifestaram. No mundo, para quem acompanha o noticiário, vemos as dificuldades e o caos que se espalharam na Europa e no oriente, tantos países em crise, tantas guerras e atentados terroristas causando mortes e um número sem fim de refugiados.
“Eis que a terra está envolvida em trevas e nuvens escuras cobrem os povos”. É assim que Isaias proclamava sua profecia, na 1ª leitura. Um chamado de atenção para a situação atual do mundo, da humanidade e dos países. Talvez, nunca tenha sido tão fácil compreender o Mistério da Epifania, como nesse tempo que vivemos, vendo a terra envolvida em trevas e nuvens escuras cobrindo tantos países.
E, no entanto, vemos como potências mundiais se esforçam em busca da luz, em busca de caminhos que possam resolver suas crises. Acenderam a luz da economia como solução para a vida humana, mas essa luz começa a se apagar, o caminho começa a ficar incerto... Para onde caminham esses povos, para onde caminhamos nós?
O Evangelho de hoje nos fala de Reis Magos que estavam em busca de uma luz.
Quem eram essas pessoas de que fala o Evangelho? O Evangelho de hoje nos fala de que “vieram alguns magos do oriente”. É certo que o Evangelho não diz que são reis, nem que são três e não cita seus nomes.
O que levou estes homens a virem de tão longe e por quê deixaram o rei Herodes tão preocupado?
“Onde está o rei dos judeus, que acaba de nascer?”. Esta pergunta dos magos levantou suspeitas no rei Herodes. Este era um homem poderoso que abusava do seu poder em todos os sentidos. Agora, ele fica com medo. Medo de perder algo do seu poder, de sua riqueza e da sua vida boa.
O desejo de encontrar o rei recém-nascido fez os magos continuar sua caminhada.
“E a estrela, que tinham visto no Oriente, ia adiante deles, até parar sobre o lugar onde estava o menino” (Mt 2,7).
Os magos seguem a indicação da estrela e chegam a Belém, e é lá “onde o menino está”. Eles encontraram o seu rei! O encontro na manjedoura onde acham uma criança muda radicalmente a vida deles.
Embora tenham visitado o palácio de um suposto rei, eles perceberam mais tarde que aquilo era apenas a aparência passageira dos reinos humanos. O verdadeiro Rei de Israel se encontrava numa simples manjedoura, nos braços de sua pobre mãe e ao lado do humilde José. Uma criança pobre e frágil não parecia ser a manifestação mais apropriada da salvação que Deus traria a Israel, mas foi ali que, na humildade de uma criança, Deus se manifestou.
Celebrando a festa da manifestação divina, pergunto: Como e onde Deus se manifesta em nossa vida?
A resposta encontramos num pequeno detalhe do Evangelho de hoje. Os Magos são guiados pela estrela e chegam a Jerusalém. A estrela não conduziu os Reis Magos até o presépio, mas somente até Jerusalém. Lá eles precisaram se informar do endereço, da estrada que conduz ao Rei que acabava de nascer. Por isso, como fazemos quando chegamos a uma localidade desconhecida, perguntamos onde fica a rua ou a avenida tal... Quando os Magos perguntaram isso, os teólogos foram pesquisar no Livro Sagrado que era a Bíblia. Encontraram na profecia de Miquéias o endereço: será em Belém!
Conclusão: Quer conhecer o endereço de sua vida para se encontrar com a luz divina, com Jesus Cristo? Pois bem, o endereço está na Bíblia e, mais precisamente, para nós que somos discípulos e discípulas de Jesus, o endereço está no Evangelho. É no Evangelho que está a nossa espiritualidade, e quem vive iluminado pela espiritualidade do Evangelho encontra a estrada certa e caminha na luz.
A festa da Epifania faz nos sentir peregrinos na fé. É verdade que sentimos também o cansaço do caminho. A vida, muitas vezes, se nos apresenta como uma luta, um cansaço que parece não ter fim. Para muitos a vida é sofrimento, uma coisa sem sentido. Mas todos nós trazemos dentro de nós, lá no fundo do coração, alguma brasinha da fé que nos diz: Deus não nos espera do outro lado desse mar da vida. Ele veio ao nosso encontro e ele mesmo tornou-se a luz, a estrela que nos guia.
Jesus é a luz divina que brilha entre nós. É assim que encontramos a primeira consequência prática para nós e para nossas vidas: quem caminha com Jesus tem sua vida iluminada. Quem coloca Jesus em sua vida torna-se uma pessoa iluminada pela luz de Deus.
Esta é a luz que deve brilhar no mundo. Certa vez, Jesus chamou a atenção das pessoas que o seguiam, dizendo: “Vós sois a luz do mundo”.
Podemos afirmar, sem medo de errar, que nossa sociedade está ficando cada vez mais escura porque estamos colocando Deus de lado. As drogas escurecem a sociedade, a violência, a corrupção, a falta de respeito, a desigualdade social, o medo que temos pela falta de segurança, são resultados de uma sociedade escurecida... falta a Luz de Deus. E quem sabe, falta a nossa luz!
Hoje, devemos nos perguntar: — que luz brilha em minha vida? Ou então, de modo mais radical, a gente se deve perguntar: — o jeito que eu vivo acende ou apaga a luz de Deus? A bondade, a fraternidade, a honestidade, o respeito pelo outro... são comportamentos que acendem a luz divina entre nós. Brigas, grosserias, desrespeito, corrupção, busca de prazer desenfreado, egoísmo, vícios, desunião na comunidade apagam a Luz de Deus em nós e em nosso meio.
Em resumo: eu estou acendendo ou apagando a Luz de Deus no mundo? Eu estou acendendo ou apagando a luz de Deus na comunidade, na família, no meu trabalho...?
Que Deus nos ilumine hoje e sempre com a sua graça. Que a sua Luz brilhe em todas as nossas ações, as grandes e as pequenas. Que a Estrela da Fé nos conduza ao Presépio, à manjedoura. Foi lá que Jesus nasceu. Foi lá que a Luz se manifestou aos Magos e a nós. É lá que encontramos a Luz que não se apaga, a nossa salvação.
Amando-nos mutuamente seremos o que Deus quer que sejamos. Assim, só assim, a Epifania do Cristo acontece em nossa vida.
Frei Gunther Max Walzer