Homilia - 05/06/2016 - X Domingo do Tempo Comum
A morte sempre nos causa algum impacto. Mas há mortes que provocam um verdadeiro abalo em nossa vida: a morte de uma pessoa querida, por exemplo. E o que dizer da morte de um jovem, filho único de uma mãe viúva?
No evangelho de hoje, Jesus está na Galiléia, indo de Cafarnaum para Naim. Ao aproximar-se da porta da cidade, Jesus encontra uma cena chocante: uma grande multidão vinha para o enterro de um jovem, filho único de uma pobre viúva. Diz o texto que “o Senhor, ao vê-la, ficou comovido (isto é, ‘moveu-se de compaixão’) e disse-lhe: ‘Não chores!’. Em seguida, Jesus dá duas ordens. Primeiramente, tocou o caixão, fez com que os que o carregavam parassem; ele impõe um limite à morte, que já ia levando para si aquele jovem. E depois ordena também ao próprio defunto: “Jovem, eu te ordeno, levanta-te!” (v. 14).
Jesus, ao devolver o filho vivo à mãe, devolve-lhe também a esperança de poder tocar a vida em frente. Nesse sentido, a mãe também “ressuscitou”, porque o futuro da família estava garantido.
A primeira leitura nos conta também um fato extraordinário: a ressurreição do filho jovem da viúva, que hospedava Elias em sua casa. Não foi Elias quem ressuscitou o filho da viúva, mas suas preces foram ouvidas por Deus que concedeu a ressurreição. Jesus realizou o mesmo milagre, mas como Deus, pois ele é Filho de Deus.
O poder sobre a morte é unicamente competência divina; pertence unicamente a Deus. Nós, seres humanos, somos mortais, mas Deus por ser imortal pode regenerar a vida e conceder a vida até mesmo a quem morreu.
Diariamente, ouvimos notícias de mortes que fazem sofrer famílias, pais e mães, que estão chorando a morte de seus filhos e filhas. São notícias que apavoram, porque podem nos acostumar a notícias de morte e, quando se fica acostumado, perde-se o instinto de revolta. Trata-se daquela revolta em favor da vida e contra toda forma de morte. Criou-se uma “cultura de morte”, no dizer do Papa emérito Bento XVI, que vai fazendo da morte, por vezes violenta e criminosa, um dado corriqueiro, que se resume na frase: “é assim mesmo; o que você quer fazer?”.
O encontro de Jesus com aquele cortejo, que caminhava para o cemitério, está bem próximo de nossa realidade social. Em nossas cidades existem muitos caminhos que levam ao cemitério. Vivemos numa realidade que assassina, principalmente, nossos jovens, que mata nossas crianças e que coloca nossa vida em constante risco. São os caminhos da violência, fomentados por drogas e pelo álcool; são caminhos da perda de valores, de jovens que não sabem mais distinguir entre o certo e o errado e, por não saber aonde ir, sentem prazer em colocar suas vidas no limite; arriscam-se em carros e motos em nossas rodovias e estradas e procuram compensar suas carências na droga.
É dura nossa realidade: no mundo, o Brasil ocupa o terceiro lugar em assassinatos de jovens.
O tráfico de drogas seduz três em cada cinco jovens antes dos 15 anos, diz uma pesquisa.
Além dessas causas tristes da morte de nossos jovens, os jovens correm o perigo de serem enterrados vivos. Os meios de comunicação social, com frequência, acabam fazendo a cabeça do jovem, geram no jovem falsas expectativas. Apresentam o ideal do “TER” como única meta do coração humano. Mostram o falso brilho do prazer como único dispensador de felicidade. Criam necessidades fictícias a serem satisfeitas a qualquer preço. Distorcem o sentido do amor verdadeiro e mortificam o valor do casamento.
É dessa forma que estamos levando o jovem de hoje para o enterro. A cidade inteira acompanha o enterro em procissão, chorando lágrimas tardias. E a mãe dele – a humanidade – lamenta a sua própria desgraça ao perceber que assim com essa juventude morta não poderá sobreviver.
Com efeito, deixando os jovens correr por caminhos de perdição, a sociedade está condenada a um futuro sombrio, acabamos virando coveiros de nossos jovens.
E nós cristãos, o quê fazemos? Temos, muitas vezes, até medo de falar dos verdadeiros valores, da preciosidade da liberdade, da justiça, do tesouro da paz, da necessidade da partilha fraterna, da lei do perdão e do amor.
Ao explicarmos o Evangelho de hoje, nós não nos devemos deter no fato em si, mas devemos entender o conteúdo da sua mensagem.
Jesus Cristo continua dizendo ao jovem de hoje: “Eu te ordeno, levanta-te”! Levanta-te da tua queda, da escravidão em que te encontras; levanta-te do pecado que te destrói, levanta-te da morte com a qual quiseram te destruir, levanta-te, põe-te de pé diante de mim! É preciso ouvir esta voz e responder, dar o primeiro passo, avançar. Essa palavra de Jesus quer enfrentar todo tipo de morte não natural, morte provocada.
Nesse sentido, o apelo não é apenas dirigido aos jovens propriamente ditos, mas a cada pessoa, ou seja, a todo cristão que sente morrer em si mesmo a alegria, o entusiasmo, a paz, a vontade de viver.
Nós, cristãos, devemos colocar Deus no caminho de nossos jovens; devemos colocar Deus em nossas famílias. Como pode ser a presença de Deus em nossas casas através dos pais, dos avós, dos próprios jovens? Presença com uma dinâmica de ressurreição onde se cultiva e se aprende a importância da oração, do amor, da paz, da serenidade, do diálogo... onde se ensina o valor da vida e como é importante caminhar em caminhos que promovem mais vida.
Jesus nos deixa um grande ensinamento: Mais importante do que lamentar as mortes e as desgraças das pessoas, é ter sentimento de compaixão e cuidar daqueles que sofrem. Nossa compaixão nos deve levar a sofrer e chorar com quem sofre e chora. Um sorriso, um abraço, uma palavra de consolo ou um gesto de caridade terão a mesma força da palavra libertadora de Jesus, que consegue levantar quem se julga morto.
Mais importante do que dizer que Deus está presente nas horas difíceis, é preciso fazer que se sinta a presença de Deus. Como? Através da nossa solidariedade para com todos os que sofrem, Cristo se torna presente no meio de nós. Estes gestos concretos são sacramentos de vida e da visita de Deus ao seu povo. Ele quer continuar fazendo milagres de vida e ressurreição, quer estar presente, hoje, por meio de nós.
Irmãos e irmãs, Cristo com sua cruz e ressurreição, fez parar a morte e fez surgir a vida. “Eu sou a ressurreição e a vida, quem crê em mim não morrerá para sempre!”.
Frei Gunther Max Walzer