Homilia - 26/06/2016 - XIII Domingo do Tempo Comum
No ser humano, frequentemente, a primeira reação a uma ofensa é a agressividade, a vingança. Diante do mal, a tentação é responder fazendo um mal maior.
Em nossas cidades e no país todo, esta aumentando a violência, e com isso cresce o sentimento da insegurança. Temos medo de tudo e desconfiamos de todos. Criamos muros altos, cercas eletrificadas, alarmes e câmeras de vigilância em nossos ambientes. Há uma vontade de reprimir com energia toda forma de crime. “Tolerância zero” é o desejo de muitos. Outros lamentam uma época em que era possível viver de portas abertas.
Uma reação instintiva de defesa emocional, não refletida, pouco humana, aparece hoje nos discípulos de Jesus quando Jesus estava a caminho de Jerusalém. Era a última vez que Jesus subia para Jerusalém. Na viagem, os samaritanos não quiseram hospedá-lo. A reação dos discípulos é veemente. “Vendo isso, os discípulos Tiago e João disseram: “Senhor, queres que mandemos descer fogo do céu para destruí-los?”.
Jesus reprova totalmente essa atitude hostil. Violência não se vence com outra violência. Jesus não veio para condenar, mas para salvar!
A reação precipitada de Tiago e João mostra o que não se deve fazer. Não se deve partir para a agressão.
Penso que haja ainda muitas pessoas em nossas comunidades convencidas de que com a mansidão não se consegue nada. Vinganças, palavras duras, ofensas: foi isso que Jesus nos ensinou?
Todos os que estão a caminho da Jerusalém celeste passam por vexames e humilhações. Será que esquecemos as bem-aventuranças? “Felizes são vocês quando os injuriarem... quando os perseguirem e disserem todo o mal contra vocês...”.
Adianta fazer-lhes réplicas? Não! Por que nos preocupar tanto com essas contrariedades? Temos uma belíssima oportunidade de amar os inimigos!
Sejamos construtores da paz! “Senhor, fazei de mim instrumento de paz, de amor”, assim São Francisco rezou. Se alguém nos agride usando a mentira, a trapaça, a calúnia, a violência, procuremos responder invocando sobre ele as bênçãos de Deus.
Depois deste primeiro incidente, a viagem para Jerusalém continua e, agora, aparece um desconhecido que se aproxima de Jesus e lhe pede para segui-lo para onde quer que ele vá: “Eu te seguirei para onde quer que fores”.
A resposta de Jesus é para desanimar o aspirante a discípulo. Quem quer segui-lo – afirma Jesus – não deve sonhar com uma vida folgada: será como um viajante que não tem morada fixa, morador sem teto.
O que, então, Jesus pensou quando disse, que “o Filho do Homem não tem onde repousar a cabeça”? Jesus queria ressaltar que quem quisesse ir com ele deve também estar disposto a enfrentar desconforto e carências. O seguimento de Jesus não é um piquenique gostoso de final de semana ou uma viagem turística.
Finalmente, uma terceira pessoa se aproxima e se candidata a seguir Jesus, mas não quer partir logo... pede tempo.
A esta pessoa Jesus responde: “Quem põe a mão no arado e olha para trás não está apto para o Reino de Deus”. Esta palavra é dirigida aos acomodados a se desinstalarem e ela desafia inseguros a tomar uma decisão. Seguir Jesus é decidir-se pelo Reino e não voltar atrás!
Não pode haver demoras, incertezas, não pode acontecer nenhum “mas...”. O anúncio do Reino de Deus é urgente!
No seguimento de Jesus ocorre muitas vezes aquilo que se passa com nossos bons propósitos, com muitas coisas que queremos fazer na vida: vamos começar amanhã, vamos começar no início do próximo mês, vamos começar na 2ª-feira.
Jesus, porém, quer um seguimento decidido e agora. “Segue-me”, diz Jesus. Nada de querer adiar o seguimento para antes resolver outros assuntos. Não se pode querer empurrar para amanhã, para 2ª-feira a decisão por Jesus. Muitas coisas na vida não podem ser adiadas. Aquilo que é fundamental para a nossa existência não convém que seja adiado. Se estamos com fome, por exemplo, não adiamos a refeição para o dia seguinte.
Uma expressão de nossos dias pode nos ajudar a compreender o que Jesus quer dizer: no seguimento de Jesus “não se pode ficar com um pé atrás”; ou como diriam alguns, “não se pode ficar em cima do muro”.
Ontem e hoje Jesus continua chamando homens e mulheres que, deixando tudo, se comprometem com a causa do Evangelho e, tomando o arado sem olhar para trás, entregam a própria vida na construção de um mundo novo onde reine a justiça e a igualdade entre os seres humanos.
No domingo passado, o evangelho nos falava do seguimento de Jesus até a cruz. Hoje, o evangelho nos fala da coragem que isso exige: a mesma firmeza, com que Jesus iniciou a viagem para Jerusalém.
Também o evangelho nos ensina que a resposta à hostilidade ou ofensa não deve ser revidada com outra violência. Jesus não ensinou amar os inimigos: Jesus não disse que “amar os amigos” todos são capazes? Não pediu a seus discípulos, a nós cristãos, algo mais? Não nos pediu para sermos construtores da paz, mensageiros da paz?
Frei Gunther Max Walzer