Homilia - 23/04/2017 - II Domingo da Páscoa
A festa da Páscoa é tão importante para nós que a prolongamos por cinquenta dias. Um dia só é muito pouco! Tem quer cinquenta dias de festejos pascais!
Hoje, oito dias depois, no 2º Domingo do Tempo Pascal, sentimos alegria e satisfação por estarmos mais uma vez juntos para celebrar nossa festa maior: a Páscoa. Como faziam os apóstolos e primeiros discípulos de Jesus, também nos reunimos como discípulos e discípulas do Ressuscitado.
Neste encontro de hoje, vamos primeiro recordar brevemente o que o Senhor está nos dizendo.
Era o primeiro dia da semana. Nesse dia, cedinho, a sepultura de Jesus fora encontrada vazia, como vimos no domingo passado. Ele havia ressuscitado.
À tarde desse mesmo dia, os discípulos de Jesus faziam uma reunião, provavelmente para pensar juntos sobre tudo o que tinha acontecido e estava acontecendo. Tratava-se de uma reunião meio clandestina, a portas fechadas, pois sentiam medo de ser presos também e de talvez passarem pelo mesmo “vexame” que o Mestre havia passado.
De repente, quem eles viram?! Sem a porta se abrir, o próprio Jesus apareceu ali no meio deles e saudou a todos, dizendo: “A paz esteja com vocês”.. Então, provou ser ele mesmo mostrando-lhes as mãos e o lado com as marcas das chagas. Os discípulos ficaram muito alegres, pois, viram o próprio Jesus, que os saudou uma segunda vez: “A paz esteja com vocês”. E acrescentou: Como o Pai me enviou, também, eu vos envio".
E depois de ter dito isso, soprou sobre eles e disse:
“Recebei o Espírito Santo. A quem perdoardes os pecados, eles lhes serão perdoados; a quem os não perdoardes, eles lhes serão retidos".
Tomé não estava nesta reunião. Quando lhe contaram que viram o Senhor, ele simplesmente não acreditou. “Se eu não vir a marca dos pregos em suas mãos, se eu não puser o dedo nas marcas dos pregos e não puser a mão no seu lado, não acreditarei", respondeu ele.
Oito dias depois, no primeiro dia da semana, realizavam outra reunião, também a portas fechadas. Tomé, dessa vez, estava lá. Do mesmo modo que antes, Jesus entrou de surpresa, fazendo a mesma saudação: “A paz esteja com vocês". Depois disse a Tomé: "Ponha o dedo aqui nas minhas mãos. Estenda a tua mão e coloque-a no meu lado. Deixe de ser incrédulo, mas acredite". Tomé respondeu: "Meu Senhor e meu Deus!" Jesus lhe disse: "Você acreditou, porque me viu? Feliz será quem acredita sem ter visto!"
O Evangelho diz que Jesus realizou ainda muitos outros sinais que não foram registrados. Basta este para que acreditemos que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que, crendo, tenhamos a vida com Ele.
Reflitamos sobre a Palavra:
O primeiro dia da semana após a ressurreição de Jesus tornou-se para os cristãos o mais importante de todos. Passaram a chamá-lo “domingo”, que significa “dia do Senhor”. Por quê? Porque foi neste dia que descobrimos que Jesus não está mais morto, mas ressuscitou e apareceu aos seus apóstolos e discípulos. Especialmente neste dia, os cristãos começaram a sentir a presença viva do Ressuscitado nas reuniões que faziam para lembrar a Páscoa.
Hoje, aqui entre nós, vejam o que acontece: o Senhor Ressuscitado vem, também, até nós e nos saúda dizendo: “A paz esteja com vocês”. Em outras palavras, com certeza ele quer dizer: “Gente chega de tristeza! Coragem! Não estou morto, não! Estou vivo! A morte não tem mais vez. A vocês foi dada a vida em plenitude!”.
Falando em paz, que paz é essa vendo o nosso mundo tão cheio de conflitos? Na realidade, há uma grande confusão em torno da palavra paz. Os profetas já anunciavam que a paz é fruto da justiça (Is 32,17). E para deixar claro que justiça de Deus não combina com revanche, com vingança, o Papa Joaõ Paulo II nos lembra, instituindo do Domingo da Misericórdia que celebramos hoje, que a paz é também fruto do perdão.
Essa paz que Jesus ressuscitado nos dá é shalom, a paz completa, a paz total, verdadeira! Aquela que nos coloca de pé e em prontidão para praticar a justiça, o perdão, semeando vida nova em cada coração, em cada ser humano. A vivência dessa PAZ na família ou em comunidade nos leva ao exercício do perdão: a quem perdoardes os pecados...
Além de nos saudar desejando a paz, o Senhor sopra sobre nós, transmitindo-nos o Espírito Santo. Quer dizer, o Senhor nos transmite o poder da Vida, que esmagou as forças da maldade e da morte, fez de nós sua morada. Significa que, pela presença invisível do Senhor Jesus, por seu Espírito, nós somos agora agentes da reconciliação pelo exercício do perdão. “Como o Pai me enviou. Também eu envio vocês”, disse Jesus.
A grande lição que o Senhor Jesus nos dá hoje é que está presente no meio de nós, quando refletimos, oramos e, principalmente, quando celebramos a Eucaristia, quando ouvimos a Palavra do Senhor, nos comprometemos com Ele e realizamos sinais de vida.
Isso nos dá coragem, mesmo vendo tanta injustiça, tanta corrupção, tantos males, maldades, crueldades. Esta crença, esta fé na presença do Senhor nos dá ânimo para sermos verdadeiros discípulos e discípulas do Senhor Ressuscitado.
Ao mesmo tempo, visto que ainda temos nossas limitações humanas, há tantos bloqueios que impedem a ação do Espírito de Jesus em nós.
Deste encontro, em que comungamos o corpo ressuscitado do Senhor, saiamos daqui renovados para a nossa missão de cristãos, a missão de reconciliação e de paz, de saúde e vida plena.
Cultivemos a nossa fé! Como Tomé digamos sempre: “Creio, Senhor, mas aumentai minha fé!”
Que assim seja! Amém! Aleluia!
Frei Gunther Max Walzer