Homilia - 11/06/2017 - Solenidade Santíssima Trindade
A celebração de hoje, a solenidade da Santíssima Trindade, nos revela um grande mistério e, ao mesmo tempo, suscita uma grande pergunta: quem é Deus?
Desde os primeiros passos do ser humano na história, ele olhou para o alto, para as estrelas, para o sol ou para a lua à procura da origem de tudo. Quem estaria por trás da vida? De onde ela teria brotado? E para onde tudo caminharia? Parece que nenhum povo escapou a este questionamento. Homens e mulheres de todos os tempos, lugares e povos quiseram saber algo sobre o mistério e a origem da vida.
Falando sobre este mistério, os judeus nem sequer pronunciaram o nome de Deus. Escreviam-no com quatro letras sagradas um respeito profundo. Os muçulmanos chamam o Deus supremo de Aláh. Os budistas reconhecem a Deus como a energia vital presente em tudo e em todo o universo. Para os nossos índios, o Senhor supremos e criador de tudo se chama Tupã. E nas religiões africanas, o Deus todo poderoso e acima de todos é Oxalá. Muitos nomes para a mesma realidade do Criador do universo.
Pergunto: Quem é o nosso Deus? Cremos em Deus-Trindade. Fomos batizados em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. A foto que se encontra em nossa "carteira de identidade de cristão" é a foto da Santíssima Trindade. Esta é a nossa fotografia, pois fomos criados à imagem e semelhança deste Deus que é TRINDADE, que é Pai, Filho e Espírito Santo.
Como é o rosto de Deus? Ninguém nunca viu a Deus. Mas ele se revelou a nós através de Jesus que nos revelou Deus através do seu modo de ser, de pensar, de ensinar, de agir. Jesus chamava Deus de Pai. E assim ensinou também aos discípulos. Ensinou a dizer: Pai nosso...
Nem sempre as atribuições que fazemos a Deus são bem feitas e traduzem realmente o que queremos. O que significa, por exemplo, dizer que Deus é Pai para que quem na terra não tem uma boa experiência de pai?
O Pai que Jesus revela é aquele que ama infinitamente seus filhos. E não só os filhos. Ama “o mundo”, isto é, tudo o que ele criou, porque esse Pai sabe que tudo o que Ele fez é bom.
“Deus amou tanto o mundo, que deu o seu Filho unigênito, para que não morra todo o que nele crer, mas tenha a vida eterna” (Jo 3,16).
Jesus falava constantemente do Pai como daquele que o enviou para cumprir sua vontade. Ele mostrou essa vontade do Pai por seu modo de agir: perdoando os pecadores, curando os doentes, valorizando as pessoas.
Certa vez, Filipe, um dos discípulos, pediu: “Senhor, mostra-nos o Pai”. Jesus respondeu: “Quem me vê, vê o Pai” (Jo 14,8). Com isto, quis dizer que é ele quem mostra como é Deus, o Pai. Jesus não é o Pai. Ele é o filho que fala do seu Pai. Portanto, conhecendo Jesus, conhecemos o modo de ser de Deus-Pai: misericordioso, cheio de amor para com os fracos e excluídos.
Jesus não fala somente do Pai, mas também promete mandar o Espírito Santo. Na leitura do Evangelho ouvimos: “Quando, porém, vier o Espírito da Verdade, ele vos conduzirá à plena verdade. Pois ele não falará por si mesmo, mas dirá tudo o que tiver ‘ouvido’ do Pai e do Filho” (Jo 16,13).
E daí? Poderíamos nos perguntar: “Tudo bem: Deus é Trindade, Deus é Amor. E o que temos a ver com isso?”
Tudo isso que refletimos até aqui é que o Deus Trindade, Pai e Filho e Espírito Santo vêm até nós para trazer vida divina, vida do próprio Deus, nos ama e nos adotou como filhos e filhas seus. “Para que não morra todo o que nele crer, mas tenha a vida eterna” (Jo 3,16).
Qual, então, é nosso compromisso de viver como filhos e filhas de Deus?
O compromisso que vem da Palavra que ouvimos hoje é muito sério. Uma vez que temos a vida divina dentro de nós, somos chamados a viver como filhos e filhas de Deus no meio da sociedade. Nossas atividades, nossas palavras, nosso relacionamento com as pessoas devem mostrar e demonstrar que Deus vive dentro de mim.
Se quisermos saber como Deus gostaria de estar presente em nossas palavras e ações, olhemos para Jesus.
O jeito de Jesus agir e tratar as pessoas é o jeito como Deus age e trata as pessoas. O modo de acolher as pessoas, fossem elas pecadoras ou não, é o modo como Deus trata as pessoas.
Viver o amor do Pai significa dizer não a todo tipo de autoritarismo, de egoísmo. É sair de si e ir ao encontro do outro, sem nenhuma exigência de retribuição e contrapartida. É preocupar-me com o outro, com seu bem-estar, sua felicidade. Descubro que eu não sou o centro do mundo. Devo sair de mim para encontrar o outro, sem armas, sem reservas, sem preconceitos. Dou-me ao outro sem imposições. Amar é, simplesmente, dar-se.
De outro lado, existe também o compromisso comunitário. Se Deus Trindade tanto nos ama e se faz presente em nossa Igreja pela ação do Espírito Santo. Somos vocacionados a viver em comunidade, mas numa comunidade fundamentada no amor. Poderá haver faltas e falhas, porque somos humanos, mas estas deverão ser superadas por gestos de amor, de perdão e de acolhimento.
E o Espírito Santo... onde fica? Ele está presente justamente nesta dinâmica: dar e receber amor. Ele é a presença do Amor. Quando amamos e quando nos deixamos amar, o Espírito do Amor, o Espírito Santo está presente. Nós sentimos sua presença, mesmo quando não sabemos defini-la. Presença de Deus! O Espírito Santo está presente quando deixamos de lado todos os fechamentos, os esquemas preestabelecidos, os preconceitos, os dogmatismos... pois, “o Espírito sopra onde quer”.
Festejando, hoje, a solenidade da Santíssima Trindade, devemos reconhecer que Deus é muito mais do que conseguimos dizer dele. Quando o chamamos de “Santíssima Trindade”, afirmamos que Deus é um mistério, mas não um mistério simplesmente incompreensível, mas um mistério de amor. Amor não se explica, simplesmente se ama. Com o mistério da Santíssima Trindade é assim também: não adianta querermos explicações.
O que sabemos, e disso temos certeza, a Trindade tem muito a ver com a nossa vida, da vivência do amor.
De fato, temos muita dificuldade em entender o mistério da Santíssima Trindade. Sabem por quê? Porque ainda não conseguimos encarnar, completamente, o amor de Deus.
"Quem me vê, vê o Pai", disse Jesus. Hoje, deveríamos mostrar nossa carteira de cristão e dizer: "Quem vê os cristãos, vê o amor de Deus, vê a Deus e seu amor presente entre nós”.
Frei Gunther Max Walzer