Homilia - 20/08/2017 - XXI Domingo do Tempo Comum
Quem é Jesus pra você?
O Evangelho de hoje nos convida a refletir sobre a nossa profissão de fé em Jesus. Não basta aclamar “Jesus é o Senhor!”, mas devemos cuidar da base de nossa fé. Não podemos ficar com a catequese que recebemos quando criança, ou apenas com algumas expressões da devoção popular: procissões ou Festa do Divino. Precisamos conhecer a razão da nossa fé, reconhecer e testemunhar que Jesus é o Messias. Dele dar testemunho em todo tempo e lugar.
Também nós, em nossos dias, como os apóstolos dois mil anos atrás, ouvimos falar com frequência de Jesus e as opiniões que encontramos sobre Ele são variadas como as que ouvimos no Evangelho.
Jesus sabia o quanto o povo estava confuso sobre quem Ele era e, por isso, pergunta: "Quem dizem os homens ser o Filho do Homem?".
Eles responderam:
"Alguns dizem que é João Batista; outros, que é Elias; outros ainda, que é Jeremias ou algum dos profetas".
Se Jesus, hoje, fizesse esta pesquisa de opinião a seu respeito, qual seria a resposta?
Só para vermos a atualidade da questão é bom citar como a cada dia saem novas ideias sobre Jesus Cristo em livros, jornais, transmissões televisivas, laboratórios, seitas; e o que está mais em voga é difamar de Jesus para provocar curiosidade e vender milhões de livros, como “O Código da Vinci” de Dan Brown e o “Evangelho segundo Jesus Cristo” de José Saramago.
Mas uma coisa é certa: os homens de todos os tempos e lugares têm um único ponto de referência: Jesus Cristo. A história iniciou a contar os seus dias a partir do nascimento de Cristo: daquele fato histórico, não só religioso, o homem deu início a uma nova história, a história antes de Cristo e a história depois de Cristo. Cristo é o ponto fixo de referência para toda a humanidade de todos os tempos. De fato, todo dado histórico se coloca a partir daquela data, antes ou depois. Até países com um calendário milenar como a China já adotaram o calendário gregoriano (a.C. e d.C.).
Mas voltando ao texto, vemos que Jesus vai mais além e faz outra pergunta: “E vocês, quem dizem que eu sou?”. Jesus não se satisfaz com o que os outros dizem dele; com esta segunda pergunta, ele constringe os apóstolos a dizerem o que realmente pensam dele.
“Você, Pedro, homem impulsivo, quem sou eu para você? E você, Tomé, cético, quem sou eu para você?” Todos se encontravam numa situação muito difícil: a de ter que qualificar a própria relação com Jesus, já que a resposta a uma pergunta como esta não conhece retóricas, convida a uma resposta clara, não há como enrolar na resposta.
A reflexão sobre Cristo, a qualquer nível que se possa colocar, se impõe como uma verdade: o centro da reflexão e da fé cristã não é um objeto, uma doutrina, uma fórmula, mas o Deus vivo, que provoca e inquieta, e, como podemos ver pela sequência do relato, não dá espaço a uma resposta vaga. Jesus quer uma resposta que envolva a própria pessoa: não se pode responder por ouvir dizer. Cada um a esta pergunta deve responder com a sua experiência pessoal de Cristo.
A resposta de Pedro é um ato de fé, é um dos mais bonitos e um dos trechos mais importantes do Evangelho: “Tu és o Messias, o Filho do Deus vivo”.
Certa vez, alguém fez a seguinte pergunta a João Paulo II: “Por que Jesus não poderia ser somente um sábio, como Sócrates? Ou um profeta, como Maomé? Ou um iluminado, como Buda? É realmente possível sustentar ainda a certeza inaudita de que este judeu condenado à morte numa aldeia obscura é o Filho de Deus, da mesma natureza que o Pai? Esta pretensão cristã não tem paralelo com nenhuma outra crença religiosa”.
E o Papa sabiamente respondeu: “Cristo é absolutamente original, único e não repetível! É o único mediador entre Deus e os homens... todo o mundo dos homens, toda a história da humanidade encontra nele a sua expressão perante Deus. E não diante de um Deus longe, inalcançável, mas perante um Deus que está nele, antes, que é ele mesmo. Isto não existe em nenhuma outra religião, e muito menos, em nenhuma outra filosofia. A originalidade de Cristo nos assinalada pelo apóstolo desde que Pedro confessou: “Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo”. Cristo está no centro da fé e da vida dos cristãos, no centro de seu testemunho, que não poucas vezes chegou até a efusão do seu sangue”. (Cruzando o limiar da Esperança).
E pra você? Quem é Jesus?
A pergunta que Jesus faz aos seus discípulos, também, faz a nós: “E vocês, quem vocês dizem que eu sou?”
Qual é a nossa resposta? Jesus não espera uma resposta de palavras, da boca para fora ou de palavras decoradas do catecismo. Trata-se de fazermos de Jesus o nosso Deus vivo, presente em nossa vida. Jesus espera de nós uma profissão de fé. Temos muitos “cristãos” fabricados a gosto do freguês que não passariam no teste do confronto com o Evangelho.
Fé e vida são inseparáveis. Sabemos que Cristo está presente em nossa vida, porque ele assumiu toda a vida humana feita de alegria e sofrimento, de justiça e injustiça, de angústia e libertação. Não podemos ter fé num Deus que não mexe com a nossa vida.
Se nós separamos Cristo da vida, fazemos entender que não acreditamos nem em Cristo, nem na vida.
O rosto de Cristo tem sempre um rosto humano de um Deus que não somente está interessado com os problemas da gente, mas veio viver pessoalmente os nossos problemas. Participar de uma missa bonita e levar a vida lá fora de qualquer jeito, isso já era para quem sabe que fé e vida não se encontram só no final de semana.
Todos nós sabemos que esse “matrimônio indissolúvel” entre a fé e a vida não se realiza sem esforço. Deve ser assumida no dia a dia. É estar com os outros, vivendo em fraternidade. É levantar-se depois de um tombo. É uma caminhada constante, às vezes cantando, às vezes chorando; às vezes chateado, às vezes vibrando.
No Evangelho de hoje, mais um item é importante ser lembrado.
Para que a Boa Nova continue sendo anunciada a todos, Jesus escolhe Pedro como chefe da Igreja. Para que qualquer instituição funcione, é necessário que alguém coordene esta instituição, alguém que enfrente as responsabilidades, que distribua tarefas e saiba envolver a todos. Pedro é o papa. O papa, os bispos, os padres, os religiosos, os agentes de pastoral, os cristãos, todos somos responsáveis pela Igreja. A todos foram dados o Espírito Santo e os seus dons.
“Eu te digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra construirei a minha Igreja, e o poder do inferno nunca poderá vencê-la. Eu te darei as chaves do Reino dos Céus: tudo o que tu ligares na terra será ligado nos céus; tudo o que tu desligares na terra será desligado nos céus".
Ao dar as chaves dos céus a Pedro, Jesus quer que ele seja o primeiro a responder pela Igreja, seja o primeiro a servir os cristãos, seja o primeiro a confirmar os irmãos na fé, seja o centro visível de união da Igreja.
No entanto, vemos as comunidades cristãs divididas entre si. Esta divisão é causada, com certeza, pelos pecados dos homens, e não pela palavra de Jesus.
Para reconstruir a unidade não podemos exigir que sejam os outros que se convertam a nós; devemos conscientizar-nos que todos nos devemos converter a Cristo e à sua Palavra.
Os irmãos protestantes reconhecerão, então, que Jesus de fato conferiu a Pedro uma missão particular a serviço dos irmãos.
Mas, também, nós católicos devemos nos converter. Deveremos abandonar tudo aquilo que não é evangélico no nosso modo de interpretar o ministério do Papa e a autoridade na Igreja.
Deveremos nos adaptar, sobretudo, àquilo que Jesus repetiu muitas vezes e com tanta clareza: “o primeiro entre vós seja como o mais pequenino e quem governa, como aquele que serve” (Lc 22,26).
Provavelmente, a expressão mais perfeita para definir o ministério do Papa, continua sendo aquela de um famoso bispo da Igreja dos primeiros séculos, Irineu de Leão, que definia o Bispo de Roma: “Aquele que preside a caridade”.
Frei Gunther Max Walzer