Homilia - 24/09/2017 - XXV Domingo do Tempo Comum
O Evangelho de hoje fala de pessoas desempregadas que receberam um convite de trabalho numa vinha. Como ficariam contentes nossos trabalhadores desempregados se fossem encontrar um serviço, já que temos milhões de trabalhadores sem trabalho em nosso país. O estrago feito por décadas de uma politica econômica, em detrimento do emprego e da dignidade dos trabalhadores, é tão grande, que, dificilmente, um governo conseguirá reverter esse quadro triste em poucos anos, por mais que o queira.
A 1ª leitura é um texto muito bonito, da profecia de Isaías, mas que aconteceu num tempo de grande sofrimento. Como no tempo de Isaias, temos elementos concretos que fazem crescer a desesperança e a desconfiança do povo quando todos os dias e a todos os momentos recebemos notícias de mais um assalto ao dinheiro público e de dimensões gigantescas de corrupção.
Nessa atual situação, a necessidade do trabalho é tanta, que ninguém “está se dando o luxo” de recusar qualquer oferta de emprego. Aceitar um trabalho, mesmo que o resultado financeiro não seja o almejado, parece ser uma questão de sobrevivência hoje em dia.
Quando lemos o Evangelho de hoje, novamente, podemos constatar que os pensamentos divinos são diferentes dos pensamentos humanos. Mais uma vez, Jesus fala em parábolas. A parábola de hoje revela a lógica da gratuidade em oposição à lógica da compensação e da competitividade.
Jesus conta aos seus ouvintes a história de um patrão que saiu de madrugada para contratar trabalhadores para a sua vinha. Certamente, ele fala de realidades comuns a seu tempo: patrões que tinham vinhas e pessoas desempregadas pelas praças...
Este homem sai para a praça para buscar empregados em diversos momentos do dia e cada vez que ele sai, ele encontra gente sem fazer nada.
O Evangelho descreve a praça como o lugar dos desocupados. O dono da vinha, cinco vezes por dia, passa pela praça convidando gente para trabalhar na sua vinha. Mas o desafio está na atitude daquele homem, quando chega ao final do dia ele paga igual para todos... o que pode parecer uma injustiça...
Permitam uma pergunta: Vocês gostaram da parábola? Vocês estão de acordo com o senhor da vinha?
Posso imaginar a sua resposta: Que estranho o comportamento desse homem! Se aquele senhor queria bancar o bonzinho devia distribuir o pagamento de uma forma justa, começando por aqueles que tinham trabalhado mais! Vocês, certamente, pensam que recompensar somente os últimos é uma injustiça gritante, irritante até. Não há nada de bom senso na atitude daquele senhor! Se por compaixão, às escondidas, sem dar na vista, ele tivesse arredondado o pagamento para estes últimos, não haveria nada de mal. Mas provocar a raiva daqueles, que depois de doze horas de trabalho, têm o rosto queimado pelo sol e agora estão cansados, isto é demais. Os operários da primeira hora são obrigados a assistir a uma cena ridícula: não acreditam o que estão vendo, os colegas que, sem suar o corpo, recebem o mesmo pagamento que eles.
Como será que esses trabalhadores da última hora tinham se sentido? Os primeiros talvez “chorassem” de raiva; os últimos “choraram” de alegria e emoção.
Jesus destaca a atitude dos operários das primeiras horas. Não se alegram porque os colegas também conseguiram o sustento do dia. Querem medir méritos. Se eles vão ganhar o salário de um dia, então nós merecemos mais – pensam eles.
Não quero negar que é assim mesmo que costuma funcionar a nossa lógica e até a educação que recebemos. Quem de nós não ouviu dos pais e outros educadores que é preciso se esforçar na vida, porque quem mais se esforça merece mais?
No entanto, o profeta Isaias, na primeira leitura nos diz que Deis pensa diferente: “Meus pensamentos não são os vossos, e vosso modo de agir não é o meu, diz o Senhor” (1 Isaias 558).
É justamente neste comportamento surpreendente do patrão que se deve buscar o ensinamento da parábola. Deus é assim, quis dizer Jesus. Não contem seus méritos diante de Deus. Você são simples servos. Realmente, diante de Deus somos todos devedores. Todo, desde o início de nossa vida é graça.
Deus nos convida a trabalhar na sua vinha, isto é: na constrição do Reino de Deus. Este convite é uma escolha do amor de Deus. Isso já por si mesmo é um privilégio. Não há nada de meritório nisso!
Não existe nada do que podemos considerar “nosso”, pois tudo o que temos recebemos. Na “vinha do Senhor” trabalha-se gratuitamente, não se trabalha para ter um salário maior, não se pratica o bem em favor do irmão para ter o direito a um prêmio no céu.
Seria um egoísmo imperdoável servir-se do irmão pobre e necessitado para acumular méritos diante de Deus.
O cristão ama porque descobriu como é bonito amar desinteressadamente, amar como o Pai ama. O cristão faz o bem pelo prazer de fazer o bem.
Quem ainda trabalha para ganhar um prêmio, para obter merecimentos, ainda acredita num deus pagão, não no Deus de Jesus Cristo.
Quantos anos estamos trabalhando para Deus, pouco importa. O que fazemos na construção do Reino, tampouco tem alguma importância. O que importa é que trabalhemos e façamos tudo com amor, e que tudo seja uma doação de nós mesmos.
Talvez, esta parábola, também, é dirigida às nossas comunidades. Na Igreja não deve haver aqueles que podem exigir mais “porque chegaram antes”. Ninguém deve se prevalecer apelando para seus méritos por ser um “veterano”. Todos são iguais. Todos somos operários na “vinha do Senhor” e nos encontramos todos no mesmo nível. Não deve haver entre nós superioridade.
No serviço de Deus não existe relógio ponto, e é bom não marcarmos o tempo com o relógio na mão.
Vamos dar a Deus o que é de Deus, pergunto: o que não é de Deus?
Deus tem uma lógica diferente, não pensa como nós. É assim que todos nós seremos salvos: pela lógica do amor, que sempre acha um jeito de nos dar mais do que merecemos.
Hoje, comemoramos o "Dia da Bíblia". O tema deste dia é: "Para que nele nossos povos tenham vida" e, o lema: "anunciar o Evangelho e doar a própria vida".
Ambos, tema e lema, refletem-se na 2ª leitura, na qual Paulo relata o que significa para ele ser evangelizador. Para Paulo, evangelizar é doar a vida para que o povo tenha vida digna. Claro que os sentimentos dos brasileiros que amam o povo tendem a ser de revolta, num primeiro momento. Mas, somos cristãos, seguimos a Bíblia e pautamos nossas vidas pelo Evangelho e, neste caso, vale o que ouvimos na 1ª leitura: os pensamentos divinos são diferentes dos pensamentos humanos. É o que dizia Jesus, no final do Evangelho, que pode ser traduzido com este pensamento: temos o direito de fazer o bem, porque a bondade é a grande riqueza do cristão.
Que a Palavra de Deus, presente na Bíblia, nos ajude a não desanimar e nem permitir que a corrupção destrua nosso povo. Amém!
Frei Gunther Max Walzer