Homilia - 08/10/2017 - XXVI Domingo do Tempo Comum
Sempre mais a tecnologia no mundo de hoje avança, e, praticamente, é possível inventar uma máquina para fazer qualquer coisa que se pensar. Vivemos cada vez mais a “cultura dos aplicativos e da digitalização” quase tudo hoje é programado para realizar, com a maior perfeição, as mais variadas tarefas. Até a vida humana, antes cercada com o manto da sacralidade que a tornava intocável, agora está prestes a se reduzir a objeto que se pode programar. Daqui a pouco,
Será que Deus, quando criou os seres humanos, os programou feito robôs os pais poderão escolher as características que querem para seus filhos: a cor da pele, dos cabelos, dos olhos, altura, sexo... talvez comecem também a programar a sua profissão, as sua preferência afetiva, os seus gostos e hábitos?
Será que Deus, quando criou os seres humanos, os programou feito robôs? Ele tinha um plano para nós, mas esse plano contava com a nossa liberdade. Ao escolher também o povo de Israel, para através dele, implantar o seu projeto no mundo, que é seu Reino, Deus não programou a resposta do povo. Contou com a sua liberdade de aderir ou não a esse projeto. E o ser humano falhou. Israel também não deu certo. Foi como uma vinha que, tendo tudo para produzir boas uvas, só deu uvas azedas. Diante desse fracasso, o que Deus faz? O que fará com os vinhateiros que não são capazes de fazer a vinha produzir? Será que vai abandonar seu projeto, por falta de parceiros? Ou vai tocá-lo em frente, buscando novas parcerias?
A Palavra de Deus, sobretudo através de seus profetas, salmistas e principalmente por meio de seu Filho Jesus, toma emprestada da experiência humana a imagem da vinha e a usa para nos falar do Reinado de Deus.
Na primeira leitura, o trecho da profecia de Isaias é chamado de hino, a “Canção do amor”. Talvez seria melhor colocar o título "Amor decepcionado".
O profeta põe nos lábios de um amigo de Deus o que é do próprio Deus. O hino começa com palavras suaves, mas logo depois aparece a desilusão de um grande amor não-correspondido: “Esperava uvas boas, mas a vinha produziu uvas azedas” (Is 5,4).
Em seguida, fica explícito o motivo da “decepção” de Deus: “A vinha do Senhor é a casa de Israel, e os homens de Judá são a planta de sua predileção. Esperava deles a prática da justiça, e eis o sangue derramado; esperei a retidão, e eis os gritos de socorro” (Is 5,7).
Também hoje, na Igreja e no mundo, em lugar de uvas boas, muitas vezes damos frutos de injustiça e, em lugar de promover o direito, deixamos que inocentes paguem com a vida. No Evangelho, Jesus retoma o cântico da vinha de Isaias e o leva ao seu sentido definitivo com a promessa de uma vinha nova.
Na parábola de Jesus, o dono da vinha manda buscar os frutos da colheita. Seus primeiros mensageiros são maltratados, um até é assassinado. Com os demais mensageiros acontece o mesmo. E Jesus lembra as Escrituras e a atividade dos profetas, que tinham vindo alertar o povo em tempos passados. Agora Jesus acrescenta um dado novo; nos últimos tempos, não é um profeta (um servo) que vem; o enviado agora é o Filho do dono. A sorte dele não será melhor.
Pelo contrário: por ser considerado “mais perigoso”, mais rapidamente trama-se a sua morte.
O que nos ensina esta parábola?
Cada um de nós deve considerar-se um operário da vinha. De cada um de nós serão exigidos os frutos. Se não soubermos produzi-los, seremos condenados como os agricultores da parábola.
Vamos responder agora com sinceridade: quais são os frutos que produzimos e que nossas comunidades produzem hoje? Produzimos justiça, amor, paz, felicidade?
Produzimos felicidade para todas as pessoas ou nos restringimos a vir à missa, a cantar lindas músicas e a fazer orações feitas de palavras e de gestos desligados da vida?
Estes frutos de solidariedade e de fraternidade, como nos ensina esta parábola, não devem ser só de algumas pessoas isoladas, mas de toda a sociedade, de toda a vinha; o proprietário queria ver toda a sua vinha com frutos maduros, e não só umas poucas videiras. O discípulo de Jesus tem sempre consciência de que é a comunidade na qual ele vive que deve produzir frutos de solidariedade, justiça e fraternidade.
Na segunda leitura, Paulo nos dá uma série de conselhos que nos ajudam a dar bons frutos na Vinha Nova do reino de Deus: “Ocupai-vos com tudo o que é verdadeiro, respeitável, justo, puro, amável, honroso, tudo o que é virtude ou de qualquer modo mereça louvor” (Fl 4,8).
Quando vivemos isso, estamos implantando o Reino de Deus no mundo e, ao mesmo tempo, entregando a Deusos frutos que ele espera de nós.
E como conseguir isto, se nossa influência é tão pequena, se não somos governantes nem deputados, nem fazemos as leis? Como fazer com que nosso fruto não permaneça fechado dentro de nós mesmos, mas sirva a toda a sociedade?
É verdade que não podemos influir em toda a sociedade; mas podemos influir numa pequena parte dela, num lote (assim como a vinha se divide em lotes). No nosso trabalho, no meio em que vivemos, na família, na comunidade, podemos semear solidariedade, retidão, paz, cristianismo. Podemos tornar o nosso pequeno lote uma fraternidade, uma pequena imagem do Reino de Deus.
E, se todos os cristãos cumprissem com o seu dever de semear bons frutos em seu pequeno lote, a vinha inteira, a sociedade inteira se aproximaria cada vez mais do sonho de Jesus, e dos frutos que ele espera dos discípulos.
Frei Gunther Max Walzer