Homilia - 17/11/2019 -XXXIII Domingo do Tempo Comum
Lendo os jornais e assistindo ao noticiário da TV, a gente poderia dizer: “Nossa! Mas isso é o fim do mundo!” A gente se espanta com o terrorismo espalhado pelo mundo inteiro, com as guerras que causam tantas mortes e milhares de refugiados, a violência em nossas cidades que causam morte de crianças e adolescentes por balas perdidas, mortes causadas pelo narcotráfico... No fundo, são coisas que nos fazem perder sempre mais a esperança e nos fazem pensar que este mundo não tem mais conserto, o nosso mundo se encontra num beco sem saída. A gente pode pensar que a criação do ser humano tenha sido um grande equívoco do Criador, que, afinal, chegamos a um ponto onde nada mais tem conserto.
Sem falar das catástrofes naturais que, em poucas horas, ceifam milhares de vidas humanas, terremotos destruindo cidades e, além de tantas vítimas deixam milhares de pessoas sem moradia e alimentação em todos os continentes do mundo.
O Evangelho e a primeira leitura da Profecia de Malaquias falam de tempos difíceis que precisam ser enfrentados sem medo e com esperança. Tudo isso exige perseverança.
O profeta Malaquias fala do “Dia do Senhor”, o grande dia do juízo de Deus sobre os inimigos do povo. ”Eis que vem o dia, ardente como uma fornalha. E todos os soberbos, todos os que cometem o mal serão como a palha; este dia que vai vir os queimará - diz o Senhor dos exércitos - e nada ficará: nem raiz, nem ramos” (Ml 3,19). Esse dia é esperado com grande expectativa, sobretudo pelos mais pobres, os mais injustiçados. Em forma bem direta podemos dizer que podemos ter esperança de que a violência, a corrupção, a injustiça, enfim, o mal não persistirá para sempre.
O Evangelho escrito por Lucas nos transpõe para as comunidades cristãs do final do século primeiro. Passaram-se mais de 500 anos desde a profecia de Malaquias. Essas comunidades já abraçaram a fé em Jesus como Messias. Elas professam que Jesus é o Senhor e que ele ressuscitado está presente no meio delas.
Mas a situação dessas comunidades era dramática. Lucas escreve o Evangelho depois do ano 70, quando aconteceram o massacre da população e a profanação do Templo em Jerusalém. Há divisões internas, lideranças se corrompendo, discriminação dos pobres e das mulheres, a partilha de bens não está funcionando... Para piorar as coisas, muitos cristãos estão sendo perseguidos por parte dos judeus e dos romanos. Cadê a salvação que Jesus prometeu?
Nessas horas difíceis, a tentação é desanimar, abandonar tudo, desistir.
Alguns pregam que Jesus voltará em breve para pôr fim a essa confusão e estabelecer definitivamente o Reino de Deus. E aí já não faziam mais nada, deixando tudo “para Jesus resolver quando vier”. Mas esse retorno não acontece! E aí? Será que fomos enganados e acreditamos numa ilusão?
Na segunda leitura vemos que São Paulo já havia alertado para o erro dessa atitude de descompromisso com a vida presente, de acomodar-se na ociosidade: “Ouvimos dizer que entre vós há alguns que vivem à toa, muito ocupados em não fazer nada” (2Ts 3,11). Ao contrário, Paulo exorta a trabalhar e a sustentar-se com o trabalho das próprias mãos ou a deixar também de comer.
Ouvindo as leituras de hoje, parece que não nos devamos preocupar com o fim do mundo, mas com a vida presente. Jesus, hoje, nos adverte dos males e nos mostra as coisas ruins que existem, mas ele nos deixa três recomendações e uma promessa.
A primeira recomendação: “Cuidado para não serdes enganados!” (Lc 21,8). Não se deixem enganar, não pensem que Deus os vai abandonar, nem precisam procurar outros mestres, outras doutrinas, como seja o espiritismo ou religiões orientais, a Nova Era,
as seitas ou filosofias esotéricas. “Não sigais essa gente! Eu sou o Bom Pastor”. “Não se deixem iludir, não se entreguem aos mercenários que enganam; não abandonem o aprisco onde foram reunidos por mim”.
A segunda recomendação: “Não fiqueis apavorados!” (Lc 21,9). Certamente, quando Jesus falava destas coisas horríveis, os apóstolos se lembravam daquela violenta tempestade no lago, quando Jesus estava dormindo no fundo do barco e o barco estava quase afundando. Ele disse: “Por que estão com medo? Onde está a fé de vocês?” E outra palavra de Jesus: “Eu estarei sempre com vocês até o fim dos séculos”.
E a terceira recomendação é: “Esta será a oportunidade para vocês anunciarem o evangelho” (Lc 21,13). Portanto, a nossa preocupação não deve ser o fim do mundo, mas a construção do Reino de Deus. Deus nos quer encontrar ocupados com seu Reino neste mundo e firmes no testemunho de Jesus.
“Fiquem firmes, pois assim vocês serão salvos!” (Lc 21,19) Esta é a palavra final de Jesus diante do espanto dos discípulos ao ouvirem que imensas dificuldades estão vindo pela frente. Mas quem se decidiu a seguir o caminho de Jesus não vai se intimidar com isso, nem querer fugir da luta. Não podemos esquecer que a cruz marcou toda a vida de Jesus e, por conseguinte, é também a realidade da vida do cristão. Cruz em forma de perseguição, de calúnia, de oposição, de fracasso, de ridicularização, é normal para aqueles que são os seguidores de Jesus.
“Sereis odiados!”, promete Jesus. O “viver no mundo sem ser do mundo” é o grande desafio nosso, que leva quase sempre à incompreensão e provoca o sarcasmo dos adversários.
O que Jesus previu, acontece na vida de cada um de nós. As coisas ruins acontecem na vida de todos nós. Somos chamados a perseverar, mesmo tropeçando, caindo e passando por crises. Toda cautela é pouca, para não nos deixarmos levar pelas vozes sedutoras que sempre e em toda parte vão aparecer para nos seduzir.
Procuremos sempre testemunhar a nossa fé, mesmo sabendo que ela vai exigir muita coragem. “É permanecendo firmes que ireis ganhar a vida”.
Permanecendo firmes, ganharemos a vida.
Frei Gunther Max Walzer