Homilia - 24/11/2019 - Solenidade Cristo Rei do Universo
A celebração de hoje marca o ponto de chegada de nosso ano litúrgico. Durante um ano celebramos os mistérios da vida de Jesus Cristo, desde seu Nascimento até sua Morte e Ressurreição, sua Ascensão, Pentecostes e tantos outros mistérios da sua vida, da Virgem Maria e dos Santos. Neles celebramos também nossa caminhada para Deus. De modo especial, na presença da imagem de Santa Catarina de Alexandria, queremos tornar presente a vida e o martírio da Padroeira da nossa Arquidiocese e do nosso Estado.
Nesta vida é natural querer bons resultados. Olhando para Jesus crucificado e o martírio de Santa Catarina podemos considerar um resultado bom e feliz? O fim da vida de Jesus e de Santa Catarina não foi um fracasso? Um grande fracasso pode nos fazer desistir de tentar novamente, pode nos jogar numa grande frustração. Festejamos hoje, no fim do ano litúrgico, Cristo como Rei do Universo.
Misteriosamente, o Reino de Deus começa exatamente a partir do fracasso humano. É na cruz, condenado e rejeitado pelos homens, que Jesus é declarado rei.
Quem iria pensar que Deus escolheria um caminho tão estranho?
Jesus foi crucificado no meio de sofrimentos físicos e morais. Nessa última categoria, entra o deboche, vendo na inscrição acima da cruz: JESUS DE NAZARÉ, REI DOS JUDEUS. É por conta dessa inscrição que aparecem as zombarias: Que rei é este que não acha alguém que o tire da cruz? Faz milagres? Pois essa seria uma boa hora de produzir algum... Ou será que tudo era uma farsa desde o começo?
Era um escândalo que envergonhava os que o tinham seguido. Quem gosta de seguir um fracassado? Não era nenhuma surpresa verificar que aquele que atraíra multidões agora estava sozinho, abandonado até por aqueles que mais tinham apostado nele.
No entanto, naquela hora, Deus estava assinando um contrato com seus filhos e filhas, para o que der e vier, assumindo participar da tragédia humana até o último degrau do sofrimento. Isto nos lembra o martírio de tantos homens e mulheres que deram sua vida por Jesus Cristo, e isto nos lembra o martírio de Santa Catarina de Alexandria.
Maximino teria se apaixonado tanto por Catarina a ponto de querer divorciar-se de sua mulher para se casar com ela. Com a rejeição de Catarina de se casar com Maximino. Com a firme rejeição de Catarina, pôs cinquenta filósofos para convencê-la de que Cristo, que tinha morrido na cruz, não podia ser Deus. Mas Catarina fazendo uso da arte retórica, e sobretudo dos bons conhecimentos filosóficos e teológicos, acabou por ganhar para a sua parte aqueles sábios, que iluminados pela graça, aderiram ao cristianismo: duplamente vencido aos olhos dos pagãos, eles receberam a coroa dos mártires, porque Maximino os fez trucidar.
Quanto a Catarina, não conseguindo dobrá-la aos seus desejos, Maximino procurou fazê-la triturar pelas rodas de um carro com pontas de ferro, que ao contato com o corpo da menina, dobraram-se como se fossem de vime.
Levada para fora da cidade, Catarina foi decapitada.
Santa Catarina de Alexandria, antes de morrer, disse: “Senhor Jesus, suplico-te me escute, a mim e a quantos na hora de sua morte, recordando meu martírio, invoquem seu nome”.
Os prodígios não acabaram: do céu desceram os anjos, que transportaram o corpo da mártir para o monte Sinai, onde mais tarde teria nascido um convento a ela consagrado.
“Hoje mesmo estará comigo no paraíso”.
O martírio de Santa Catarina e a morte de Jesus na cruz, olhando com olhos humanos, parecem ser um fracasso.
Olhando com os olhos da fé: ver no crucificado aquele que dá início ao Reinado de Deus nesta terra.
Um dos crucificados como Jesus revelou essa fé, enquanto muitos já tinham perdido a esperança. Ele declarou nesse instante acreditar que Jesus era o rei, o messias-ungido de Deus que faria acontecer seu reinado: — Jesus, lembre de mim quando o senhor vier como Rei!
A resposta de Jesus a esse homem, condenado como ele, é a realização do desejo que ele havia manifestado, em sua fé, de participar do reinado de Cristo: “Hoje mesmo estará comigo no paraíso”.
Se não formos capazes de crer que Deus pode usar o fracasso humano para realizar o seu projeto, salvando a todos, não conseguiremos entender como Jesus crucificado é Rei do Universo.
A oferta do paraíso ao bom ladrão reflete o ponto culminante da missão de Jesus: “Eu não vim chamar os justos, e sim os pecadores” (Mc 2,17).
A história do bom ladrão arrependido pode ser a nossa história. Nós também participamos do interminável cortejo dos santos e pecadores que cantam os louvores a Deus.
Que a participação no mistério de Cristo, Rei do Universo, dê-nos o espírito de sabedoria de Santa Catarina para percebermos a riqueza de sua realeza presente na história; dê-nos o espírito de fortaleza de Santa Catarina nas tribulações deste mundo, enquanto esperamos a vinda do reino de amor e de paz, sendo uns com os outros justos, fraternos e solidários.
Frei Gunther Max Walzer