Homilia - 09/02/2020 - V Domingo do Tempo Comum
Vocês são o sal para a humanidade e vocês são a luz para o mundo, são as palavras de Jesus no Evangelho de hoje.
Este convite para ser sal da humanidade e luz do mundo, em alguns momentos, soa um tanto poético.
Quanto custa um quilo de sal: Sal Refinado Pacote 1kg. R$ 2,29 ..R$ 2,70 - R$ 2,85...? É o item mais barato de uma compra em um supermercado... Por que será que Jesus nos comparou com algo tão sem valor?
Não foi assim que Jesus nos comparou mas com o que havia de mais caro e sagrado naquela época. O sal era tão importante que servia como uma espécie de moeda, todos os que trabalhavam recebiam no final do mês a sua cota de pagamento em sal, daí veio a palavra salário como recompensa por nosso trabalho.
Além disso, o sal sempre serviu para dar gosto aos alimentos e principalmente como conservante. As bactérias não atacam uma carne seca ou uma carne de sol, por causa da grande quantidade de sal nela existente. Quando não havia geladeira e até mesmo nos dias de hoje, o sal era usado para salgar os alimentos e impedir que eles se estragassem antes do consumo. O sal era a geladeira do passado.
O Evangelho fala também da luz: “Vós sois a luz do mundo!” Vocês já imaginaram nossa vida sem luz elétrica, nesse calorão sem ventilador e ar condicionado? Temos medo de acontecer um apagão que afetou a vida de milhares de pessoas em nosso País, anos atrás. Vocês já perceberam que todas as coisas ruins e a maioria dos crimes ocorre na escuridão. É na escuridão que agem os ladrões, é na escuridão que acontecem os assaltos e homicídios!
Como é importante a luz! Sem ela ficamos perdidos. Todos nós já passamos pela experiência de ficar sem luz, e, a nossa primeira reação quando a luz acaba de repente é buscar uma vela, uma lanterna ou outra luz qualquer. Temos medo da escuridão, pois, ela representa perigo!
O Evangelho de hoje é fácil de entender. Jesus aplica os exemplos do sal e da luz para a vida de seus ouvintes.
Ouvimos, muitas vezes, que "ontem havia menos violência, menos corrupção, menos maldade. Tudo piorou!". E, os culpados, quem são?
Se a casa fica escura ao cair da noite, não faz sentido alguém culpar a casa, pois é isso que normalmente acontece quando o sol se vai.
Se a carne se estraga e não dá mais para comer, podemos culpar a carne? Sabemos que é isso acontece quando se permite que as bactérias se desenvolvam.
Da mesma forma, se a sociedade se decompõe e seus valores morais desaparecem, quando tudo se torna um peixe mal cheiroso, é um contra-senso culpar a sociedade.
Deveríamos nos perguntar: “Onde estão aqueles a quem Jesus disse: ‘Vocês são o sal do mundo!’” .
Jesus, ainda disse: “Se o sal perde o gosto, deixa de ser sal e não serve para mais nada. É jogado fora e pisado pelas pessoas que passam e...”.
Os cristãos podem fazer o sal perder o seu sabor. O sal é a Palavra de Deus. Como o sal penetra no alimento, a Palavra de Deus, deve ser assimilada e vivida por nós!
O sal pode perder o seu sabor. Como? Quando confundimos sal com açúcar. Quando tiramos o sabor da mensagem de Jesus, das exigências do Evangelho. Até nós mesmos podemos cometer o erro de querer adoçar o próprio sal. As exigências do Evangelho nos parecem, às vezes, muito fortes, por exemplo: quando Jesus ensina que se deva partilhar os bens, ou que devamos perdoar não só uma vez mas sempre. Muitas vezes tiramos o “sabor” da Palavra de Deus, preferimos “adoçar” a nossa vida, mas é assim que nossa vida se torna sem sabor.
E o que pensar de quem põe sal demais? Isto acontece quando cristãos se concentram demais em si mesmos, em seus movimentos, olhando só para si mesmos, e não chegam a salgar o mundo com sua presença e testemunho. Quando olhamos para dentro duma igreja, aparentemente, todos os fiéis são sal. Mas é fora do saleiro, fora das portas da igreja, que nós somos provados, se, realmente, somos sal. “Vocês são o sal do mundo!”, disse Jesus.
Jesus, ainda, diz que somos luz: “Vocês são a luz do mundo”. E acrescenta: “A luz de vocês deve brilhar para que os outros vejam as coisas boas que vocês fazem e louvem o Pai de vocês, que está no céu”.
Comparando o Evangelho de hoje com as bem-aventuranças e outros textos, por exemplo: “a mão esquerda não saiba o que faz a direita” (Mt 6,3), parece haver uma contradição. Hoje, ele recomenda mostrar a próprias obras.
São duas orientações: lá se recomenda não exibir as próprias obras por vaidade, chamando atenção sobre si: aqui se constata que, se as boas obras estão sendo feitas como expressão do amor de Deus para com as pessoas, elas irão aparecer e provocar o louvor dirigido a Deus.
Jesus ilustra isso com duas comparações: se uma lâmpada é acesa para iluminar a casa, ela tem que ficar num lugar alto; não pode ser escondida debaixo de uma vasilha. Se uma cidade foi construída no alto do monte, todos a verão de longe, assim também, num mundo de trevas, ódio e violência, as boas obras devem aparecer como a cidade no alto do monte.
Quais seriam essas boas obras? Na primeira leitura de hoje, ouvimos o profeta Isaías falar em que consiste o “ser luz nas trevas”: repartir o pão com quem tem fome, acolher em casa os sem-abrigo.
Isaias diz que ser bom e generoso com os outros faz nossa vida brilhar como a aurora, brilhará como a luz do sol, no amanhecer. E, além disso, nossa saúde física será atingida para melhor. Ser bom para os outros é fonte de saúde; é saudável. Ainda lemos na profecia de Isaias, que a luz é acesa em nossas vidas quando não torturamos os outros com agressividade e nem com linguagem maldosa, fofocas e mentiras.
Com tudo o que falei até agora: ser luz e sal da terra, você podem estar pensando, "é muito difícil ser assim e fazer tudo isso! Jamais vou conseguir ser assim!"
É preciso acender nossas vidas no Evangelho; colocar em nossas vidas o sabor do Evangelho, para iluminar o mundo e dar sabor de vida divina no meio do nosso mundo. É uma missão; e uma missão das grandes, com um enorme compromisso. Sabemos que o Evangelho é luz e que o Evangelho dá sabor à vida, dá um sentido à vida e ao modo de viver, por isso, só quem está iluminado pelo Evangelho pode ser luz e sal da terra.
Quem assim age, cantávamos no salmo responsorial, não teme a vida e nem sequer teme notícias ruins, pois sua vida está fundamentada em Deus.
Assim termina o lado poético e, por isso, muita gente tem medo e escapa. Tem medo de assumir a missão de ser sal da terra e luz do mundo.
O cristão não pode viver de qualquer jeito. Precisa brilhar de verdade, precisa sentir o sabor na vida e pela vida a partir do Evangelho. Cristão que se preza brilha como luz, vive alegre e atento ao bem que pode fazer aos pobres e necessitados de todo tipo de necessidade existencial.
Vamos concluir nossa reflexão com a palavra de Paulo, dizendo que a pregação do Evangelho não se faz com discursos persuasivos da sabedoria do mundo e nem da sabedoria dos homens (2ª leitura). O testemunho cristão acontece com a sabedoria do Evangelho (sal) que faz as obras divinas brilharem pelo testemunho cristão (luz).
“A minha palavra e a minha pregação não tinham nada dos discursos persuasivos mas eram uma demonstração do poder do Espírito, para que a vossa fé se baseasse no poder de Deus e não na sabedoria dos homens” (1Cor 2,4)
Frei Gunther Max Walzer