Homilia - 29/03/2020 - V Domingo da Quaresma
De repente, tudo mudou. A pandemia do Coronavírus está provocando muito sofrimento e morte no mundo inteiro. Ainda não absorvemos o choque brutal que a pandemia representa para nossa vida, em particular o medo da doença ou a perda de nossos entes queridos. O ser humano quer viver! Os cientistas e pesquisadores procuram intensivamente uma vacina e remédio para afastar a doença e a morte e prolongar a vida de milhares de pessoas. Governos investem somas fantásticas em pesquisas de laboratório para afastar e eliminar o vírus mortal.
Mas, ao mesmo tempo, morrem milhares de pessoas por causa da fome e outras epidemias, nas guerras, nos acidentes de trânsito, na violência das drogas e homicídios.
Vida e morte: esse mistério envolve a todos. Temos a certeza que a “mortandade”, muitas vezes é fruto da maldade humana e do pecado e não faz parte do plano de Deus. Não é vontade de Deus! Ela é negação da vida, presente de Deus para todos nós.
Além da morte física, existe também a morte psicológica, espiritual: caminhar por estradas erradas, trair a própria dignidade e entregar-se a crimes, aos vícios, aos anseios do ter e do poder, do domínio. Na vida da fé, a morte se traduz no pecado, no desânimo e na frieza diante das necessidades do próximo.
A história do povo de Israel é marcada por muitos momentos de vida e morte, de pecado e graça, de total desolação e de novas esperanças. Na 1ª. leitura de hoje , ouvimos que o povo exilado na Babilônia perdeu toda a esperança. Perdeu sua terra, seu rei, seu Templo, o sentido do seu culto. Onde está Deus?
O profeta Ezequiel, que era também um exilado, comparou essa situação a um grande cemitério, cheio de ossos ressequidos. Estava convicto de que Deus ia reanimar o povo e reconduzir seus filhos de volta à sua terra.
Ezequiel proclama as palavras de Deus: “Assim fala o Senhor Deus: Ó meu povo, vou abrir as vossas sepulturas e conduzir-vos para a terra de Israel; e quando eu abrir as vossas sepulturas e vos fizer sair delas, sabereis que eu sou o Senhor. Porei em vós o meu espírito para que vivais e vos colocarei em vossa terra. Então sabereis que eu o Senhor, digo e faço” (Ez 37,12-14).
É o Espírito de Deus que dá essa nova vida. Também São Paulo diz isso na Carta aos Romanos: “O Espírito daquele que ressuscitou Jesus dentre os mortos mora em vós” (Rm 8,9). Essa vida nova nos vem pela vitória de Cristo sobre toda morte, na sua Ressurreição.
No texto do Evangelho, as palavras mais importantes são estas: “Eu sou a ressurreição e a vida. Quem crê em mim, ainda que morra, viverá; e quem vive e crê em mim nunca morrerá” (Jo 11,25). O Evangelho nos está dizendo isso: Cristo é a Ressurreição e a Vida. Ao se inclinar para o sepulcro de Lázaro e chamá-lo para fora, Jesus anuncia nesse gesto a sua própria paixão, aceitando morrer por nós, e a sua ressurreição, saindo do sepulcro. Assim, em Cristo, o que era fracasso foi revertido em vitória, já não podemos dizer: “Com a morte acabou tudo, não tem mais jeito!” Quem crê em Cristo vence a morte: a morte física deixa de ser o fim de tudo para nós. E a outra morte que significa a perda de Deus deixa de ser uma fatalidade, uma consequência do nosso pecado, porque o próprio Deus vem nos salvar dela. Nós podemos nos perder (e de fato o pecado nos leva a isso), mas Deus nuca se perde e por isso só ele sabe onde e como nos encontrar.
Mesmo agora nesta catástrofe quando o Coronavíros continua ceifando vidas humanas em todas as partes do mundo Deus não está se escondendo. Ele nos lembra que Ele existe e que é chegado o tempo de dirigir-nos a Ele. Precisamos reconhecer que, independentemente de quanto é avançada a nossa civilização e tecnologia, não podemos salvar-nos: precisamos de Deus.
Jesus nos diz: “Quem vive e crê em mim nunca morrerá”. Peçamos que ele tire as faixas da nossa auto-suficiência, do orgulho e também do medo da morte. Confiemos em “Nosso Senhor”. Confiar na vida, confiar em Deus!
Confiar, confiar na solidariedade humana. Deus está ao nosso lado presente nos médicos e especialistas, enfermeiros e profissionais da saúde, nas pessoas que trabalham durante 24 horas nos hospitais, postos de saúde, supermercados, caminhoneiros, agricultores e tantos outros voluntários que, como todos nós, lavam as mãos para evitar o contágio do vírus e evitar sua difusão. No entanto, não lavam as mãos de sua responsabilidade para com os doentes e idosos e toda a população. Pôncio Pilatos lavou as mãos diante da multidão, e disse: ‘Eu não sou responsável pelo sangue deste homem. A responsabilidade é vossa!’ (Mateus 27, 24).
Deus não está se escondendo, Ele está muito presente, Ele está no meio de nós!
Frei Gunther Max Walzer