Homilia - 25/04/2021 - IV Domingo da Páscoa
Neste tempo de crise provocada pela pandemia, as notícias que recebemos e vemos nos meios de comunicação sociais não são nada favoráveis. Milhares de pessoas vivem no medo de perder um ente querido da família ou amigo, de perderem o emprego demitidos por causa da crise econômica que atravessamos. Tudo isso nos coloca num clima de desconfiança e com aquele receio de que alguma coisa ruim está para acontecer. É claro que alguns sofrem mais que os outros. Existem muitos que enfrentam a crise da pandemia com ansiedade e, pela falta de uma liderança confiável e sólida, não têm onde se apoiar e acabam no afundamento de sofrimentos e crises pessoais.
Muitas pessoas perderam o rumo da vida, perderam a esperança, ficam sem saber para onde ir. Em tais casos, é comum que as pessoas busquem conselhos e vozes orientadoras em toda parte. E não faltam vozes para orientar, para dar conselho e, até mesmo, para dar palpites. De tanto ouvir opiniões e conselhos diferentes, muitos ficam ainda mais confusos e começam a andar às cegas.
De novo, a Palavra de Deus que ouvimos propõe um caminho e uma voz que orienta por onde caminhar. Esse caminho e essa voz orientadora é Jesus, o Bom Pastor. É uma voz que não ouvimos com nossas orelhas, mas com o coração.
“Eu sou o Bom Pastor”, Jesus disse isso. E dizendo isso os seus discípulos logo entenderam o que ele queria dizer. Pois os seus discípulos foram criados à beira do mar e observaram os pastores, que passaram com os seus rebanhos. Os discípulos de Jesus foram homens do interior, que conheciam a vida do campo. Para nós já é um pouco mais difícil para entender o que Jesus queria dizer; nós moramos numa cidade e não no campo. Não conhecemos bem a vida camponesa.
Quando Jesus disse: “Eu sou o Bom Pastor”, ele queria dizer que ele é diferente dos outros pastores. Encontramos na Bíblia vários exemplos de pastores, que cuidam bem de si mesmo. Jesus conhecia a profecia de Ezequiel e fala aqui contra os lideres do Povo de Deus. Eles vivem bem e as suas ovelhas pagam as suas contas. Eles estão se aproveitando do rebanho. O rebanho serve o pastor. Enquanto isso deve ser diferente. O pastor deve servir o rebanho. O bom pastor faz isso.
Jesus viu com os seus próprios olhos como os líderes de Israel estavam agindo. Eles desprezavam o rebanho. E vendo isso ele começou a falar de ladrões e salteadores, que maltratam o rebanho; eles não entraram pela porta. Eles não entraram pelo caminho legítimo. Quem entra pela porta é o Bom Pastor. Ele busca as ovelhas e cuida delas. Mas “o ladrão não vem senão para roubar, para matar, e para destruir”. Ele não é um bom pastor.
Quem é o pastor mercenário ou assalariado? É um funcionário, é um homem contratado que faz o seu trabalho porque ele é pago. E se não receber o pagamento, ele não cuida mais do rebanho. O que é importante para ele é o dinheiro e não o rebanho. Jesus diz: “O mercenário, e quem não é pastor, de quem não são as ovelhas, vê chegar o lobo e deixa as ovelhas, e foge; e o lobo arrebata e dispersa as ovelhas. Ora, o mercenário foge, porque é mercenário, e não tem o cuidado das ovelhas”. O mercenário quer salvar a si mesmo, não as ovelhas que lhe são confiadas! O Bom Pastor não age assim. O Bom Pastor dá a sua vida pelas ovelhas. O Bom Pastor dá a sua vida para salvar as suas ovelhas.
Encontramos líderes que não são assim, não são bons pastores! Muitos líderes pensam: as ovelhas devem dar a sua vida para salvar o líder. O líder está no centro e não o povo.
Uma das qualidades do pastor autêntico é a proximidade às ovelhas. O Papa Francisco falou de “proximidade da cozinha”, isto é, de estar lá onde “se cozinha” as coisas decisivas, aquelas que importam para cada ovelha, para cada rebanho; ele falou de um pastor que deve ter “o cheiro das ovelhas” sobre ele. Imagens fortes, que indicam a importância de que os pastores não estejam acima nem às margens, mas “no meio”, em plena solidariedade com as ovelhas.
“Dar a vida pelas ovelhas”. Foi assim que Jesus terminou a sua vida. Ele morreu na cruz, para salvar a vida do seu rebanho. Para salvar a vida daqueles que lhe foram dadas por Deus (João 10,27-29).
No fundo, a parábola do Bom Pastor e todas as imagens usadas por Jesus nos falam do amor de Deus. São características do amor: dar a vida, importar-se com o outro, conhecer, ouvir a voz e tornar-se um só com o outro. Jesus se apresenta como esse Bom Pastor porque ele faz tudo isso por nós, e assim é Deus, nosso Pai.
Quem ama o faz gratuitamente, mas espera uma resposta da parte de quem é amado. Deve ser uma resposta livre, espontânea. Deve ser também uma resposta que corresponde, na mesma medida. Amor não correspondido traz sofrimento. Amor mal correspondido também traz insatisfação e acaba gerando dor.
Não há lamento na fala de Jesus. Ele não diz: “infelizmente tenho que me sacrificar para cuidar das ovelhas” há uma alegria no fundo na descrição do Bom Pastor: ele gosta do que faz. Quem cuida de alguém por amor sabe bem o que significa. Na crise atual, precisamos de pessoas que servem os irmãos necessitados com solidariedade, amor e alegria.
Jesus não deu a sua vida por razões religiosas ou humanitárias, mas porque, quando amamos, somos capazes de dar aos amados a nós mesmos totalmente, tudo o que somos.
No túmulo de um cristão do fim do século II, um certo Abércio, lemos a seguinte inscrição: “Sou o discípulo de um pastor santo que tem olhos grandes; seu olhar alcança a todos”. Sim, Jesus é o pastor santo, bom e belo, com olhos grandes, que alcançam a todos, até a nós, hoje que estamos passando por esta pandemia. E, por esses olhos, nos sentimos protegidos e guiados.
Recebemos de Deus a capacidade de amar. Mas ainda não se revelou a imagem perfeita de Deus em nós porque nossa resposta ainda é imperfeita. Ainda não amamos “na medida de Deus”. Temos o DNA de Deus nosso criador, mas ainda falta o “teste” que vai provar a nossa filiação.
A crise atual podemos vencer se passarmos por este teste. Manifestando agora, em nossa vida, o amor, nossa característica mais fundamental, podemos ter certeza de que seremos confirmados nessa relação: “Somos filhos de Deus, de fato o somos”!
“Do AMOR nascemos, no AMOR vivemos, ao AMOR voltaremos.
Antes de concluir, quero lembrar que hoje é o Domingo dedicado às Orações pelas Vocações na Igreja, de modo particular pelas Vocações sacerdotais e religiosas. Gostaria de reforçar o convite para que rezem, na celebração dominical e também em casa para que Deus suscite em nossa Igreja bons pastores para conduzir o seu povo nos caminhos do Evangelho.
Frei Gunther Max Walzer