Homilia - 09/05/2021 - VI Domingo da Páscoa
Comemoramos, hoje, o Dia das Mães e a palavra mais ouvida e pronunciada, certamente, é a palavra “AMOR”. Podemos chamar este domingo de “Domingo do Amor”. Nada foi e nada está sendo mais cantado como o amor. Muitas músicas falam de amor, muitas revistas contam estórias de amor, novelas inventam estórias de amor. É o amor que o ser humano deseja e só a pessoa que ama e é amada pode ser feliz.
Nossa experiência humana de amar passa pelos sentimentos e, mais precisamente, começa pelos sentimentos até tornar-se um modo de viver e de se relacionar: amizade, fraternidade, namoro, casamento... Quando se fala de amor, há o perigo de expor-se a equívocos, se consideramos, por exemplo, os diferentes conceitos de amor em nossos tempos.
Os textos da liturgia de hoje nos chamam para refletir sobre a nossa prática de amor. Jesus está se despedindo dos seus discípulos. Amou-os apaixonadamente. Jesus não quer que eles se esqueçam disso, quer que seu estilo de amar não se perca entre os seus e deixa uma frase que deve ficar bem gravada entre todos: “Amai-vos uns aos outros, como eu vos amei!” (Jo 15,17). Se um dia o esquecem, ninguém os poderá reconhecer como discípulos seus.
Se fosse tão fácil “amar” como pronunciar esta frase!
Não é possível ver o “amor”, o que se vê são pessoas amorosas, são gestos realizados com amor, são projetos de solidariedade que visam o amor aos irmãos necessitados. Mas será que essa é a prática de nossa vida? Será que é isso que se vê no mundo de hoje?
É preciso purificar o nosso conceito de amor, tirar nossos preconceitos, nossos egoísmos, questionar como estamos cuidando das pessoas e do mundo, porque amar é cuidar.
É preciso analisar nossos relacionamentos familiares, nossos ambientes de trabalho e até nosso relacionamento com a Igreja. Jesus não queria que fôssemos somente “bonzinhos” uns aos outros, nem só vaquinhas de presépio. “Amai-vos uns aos outros”, é mais do que isso. Às vezes, um movimento ou uma comunidade sem conflitos pode ser mais um sinal negativo, mais um sinal de indiferença um ao outro ou de acomodação do que um sinal de amor verdadeiro.
Jesus nos dá um critério objetivo para avaliar o verdadeiro amor. João chega à conclusão: Deus é Amor. Alguém já disse: se Deus é Amor, ele só sabe amar, só pode amar! Deus não sabe fazer outra coisa senão amar.
Jesus diz que nos ama como o Pai o ama. A vida inteira de Jesus Cristo é a manifestação desse amor incondicional de Deus. Amou os discípulos com o mesmo amor com o Pai o ama. Jesus fez de sua vida um amor até as últimas consequências, amou até o extremo de dar a própria vida.
A salvação que o próprio Jesus nos trouxe se baseia no amor. Não é o sangue derramado na cruz que nos salva, como poderia ser entendido na mentalidade dos sacrifícios pagãos. O que salva é o amor que transparece em toda a vida de Jesus. Deus nos salva porque nos ama.
“O meu mandamento é este: amem uns aos outros como eu amo vocês. Ninguém tem mais amor pelos seus amigos do que aquele que dá a sua vida por eles. Vocês são meus amigos se fazem o que eu mando” Jo 15,12-15).
Jesus quer enfatizar sua ligação íntima com os discípulos e conosco. Por isso, diz que nos quer como amigos, não servos. Um amigo serve a outro com alegria, sentindo-se importante, amado. Ser amado é um dos mais poderosos incentivos para alguém fazer grandes e pequenas coisas. Um amigo partilha com o outro o que tem de melhor. Foi o que Jesus fez: partilhou conosco os eu amor e o amor do Pai.
“Continuem unidos comigo por meio do meu amor por vocês”. Jesus pede que continuemos unidos entre nós e com ele. Muitas são as oferta de crenças, Igrejas e “produtos religiosos” hoje em dia. Surge para nós esta questão: por que somos cristãos afinal? Por que somos discípulos e discípulas de Jesus Cristo, e não de Buda, de Confúcio, de Krishna, de Maomé, de Alan Kardec ou de quer quem seja?
A resposta deve estar nesta razão fundamental: todos eles deixaram ensinamentos e pensamentos muito bons, mas Jesus de Nazaré, que acolhemos como Cristo e Senhor, foi capaz de, por amor, dar a vida por nós.
A consequência para nós é que só seremos verdadeiros cristãos se soubermos também nos doar assim. E amar como ele amou.
Nesta situação atual de tanto sofrimento, dificuldades e problemas, temos a grande oportunidade de amar como Jesus amou, aliviando o sofrimento e secando lágrimas. O estilo de amar de Jesus é inconfundível. É muito sensível ao sofrimento das pessoas. Quem ama como Jesus aprende a olhar para os rostos das pessoas com compaixão. A um mendigo cego que lhe pede compaixão enquanto está a caminho acolhe-o com estas palavras: «Que queres que faça por ti?».
Nesta pandemia, quem tem esta atitude e gestos de bondade e compaixão ama como Jesus. Sim, o mandamento do amor não nos é dado como uma lei, mas como um dom que nos faz participar da vida do próprio Deus.
Encontramos em um dito apócrifo atribuído a Jesus: “Viste o teu irmão? Viste a Deus!”. Palavras que também podem ser compreendidas da seguinte maneira: “Amaste o teu irmão? Amaste a Deus!”.
Frei Gunther Max Walzer