Homilia - 22/08/2021 - XXI Domingo do Tempo Comum
Como no tempo de Jesus, hoje somos interpelados a tomar uma decisão. A quem iremos nós? Para onde ir? A quem seguir nesse tempo tão confuso e difícil? Qual é a meta da nossa vida?
Vejo as pessoas andando pelas ruas, levantando de manhã e se dirigindo para o trabalho, chegando no terminal de ônibus aquela multidão de gente vindo dos bairros da cidade para o centro, aquele congestionamento de carros na ponte. E a mesma coisa à noite, todos voltando para casa, cansados, e debulhando todos os problemas que aconteceram no serviço, todas as coisas que não deram certas.
Vejo as pessoas casarem, viverem numa família, vejo muitos casais jovens viverem juntos sem compromisso sério para o futuro, vejo as pessoas se divertirem, chorarem e rirem, vejo as pessoas terem seus amigos e amigas e com esses amigos tentando passar o tempo livre e os dias de sua vida. Vejo as pessoas preocupadas com a pandemia ou chorando de tristeza por terem perdido um ente querido.
Vejo as pessoas lutarem para amontoar bens materiais, sonhando com uma segurança econômica, gastando sua saúde e seu tempo em coisas muito passageiras, coisas até fúteis...
Onde as pessoas querem chegar com tudo isso? - Com o vai-e-vem de todo o dia, com os anos que passam, com o físico que se gasta? - Qual é a direção de tudo isso?
Vejo o avanço das Igrejas Pentecostais e o ressurgimento de outras formas religiosas, entre os quais o bruxismo, a magia e correntes que misturam elementos da cultura africana e da mística oriental. As pessoas buscam hoje se filiar a grupos religiosos que mais lhes convêm, passam de um grupo para outro sem estabelecer vínculo.
Qual é a direção de sua vida?
Talvez esta pergunta nunca tenha sido tão oportuna quanto o é em nossos dias. Vivemos num mundo de muitas incertezas, estamos em período de eleição. Mesmo no campo religioso há pessoas que, frequente e facilmente, passam de uma religião a outra, de uma doutrina a outra, de um líder a outro, em busca de algo que não conseguem encontrar. Uma socióloga de Brasília afirma: “verdade é que o ‘fluxo’ religioso das pessoas para lá e para cá demonstra que as pessoas têm pouca convicção do que acreditam. Não têm uma fé ‘para valer’!”.
Com quem devemos ficar?
No Evangelho de hoje, Jesus conclui seu grande discurso sobre o pão da vida. Vem, então, a reação dos discípulos: como os demais, eles também “murmuram” contra as palavras de Jesus. Eles estavam escandalizados aquilo que ele estava dizendo. Acham que são palavras “duras demais”, isto é, difíceis de “engolir”. Daí são palavras difíceis de se viver na prática. Desse jeito, não vale a pena segui-lo. Jesus os deixa ainda mais perplexos quando fala da sua Ressurreição: “Isto vos escandaliza? E quando virdes o Filho do Homem subir aonde estava antes”.
Logo em seguida, Jesus dá o “golpe final”: está desmascarando aqueles que estão ali mas não acreditam. São os que apenas “encheram a barriga”, mas não “viram os sinais”. A crise provocada pelas palavras de Jesus revela a inconsistência de muitos que estão ali só por estar, ou só por interesse, sem adesão do coração.
Assim, muitos voltam para casa. Não querem comprometer-se com Jesus, porque sua mensagem ‘’é exigente demais”. Então Jesus volta para os que ficaram, os Doze, e os questiona: “Será que vocês também querem ir embora?”. A pergunta é radical. Jesus não pede que eles fiquem. Não espera que as pessoas o sigam apenas por causa dos outros. Jesus dá a liberdade a cada um fazer a escolha por ser discípulo ou não. É como se dissesse aos discípulos: “Se vocês quiserem ir embora, podem ir”.
A resposta vem pela boca de Pedro. Ele faz uma bonita profissão de fé: “Quem é que nós vamos seguir? O senhor tem as palavras que dão vida eterna! E nós cremos e sabemos que o senhor é o Santo que Deus enviou”.
Ouvindo estas palavras de Pedro, nós já fizemos esta profissão de fé? A decisão é tão necessária que Jesus não usa de meios termos. Eleé objetivo e direto em seu questionamento: vocês também querem ir embora? Dito em duas palavras, quando nos colocamos diante de Deus existe sempre uma alternativa: segui-lo ou deixá-lo. Não se pode viver um pouco de cada lado. A decisão em favor a Cristo exige uma resposta de vida, um empenho de vida para se colocar à disposição do projeto divino.
Hoje em dia, a gente percebe um movimento religioso muito grande em busca de Deus, por isso, o questionamento torna-se cada vez mais necessário: qual Deus? Qual Jesus? Com qual compromisso nos colocamos no seguimento de Jesus?
O ato de crer não nasce simplesmente da aquisição de informações sobre a pessoa de Jesus Cristo. Há muitos cristãos que vivem com superficialidade a sua fé. Não querem um compromisso real com Jesus. São acomodados ou vivem a religião de modo interesseiro.
Jesus deseja ter discípulos convictos, dispostos a segui-lo até a cruz. Ele não está interessado naqueles que só o buscam para satisfazer suas necessidades materiais. A facilidade com que muitos hoje mudam de religião ou simplesmente deixam de frequentar a própria Igreja revela uma falta de convicção e de profunda fé dessas pessoas. De um dia para outro deixam de crer naquilo que aprenderam no colo de suas mães e ainda zombam dos que permanecem na fé de seus pais.
Não devemos, contudo, condenar essas pessoas. Nós mesmos somos todos humanos e inseguros. Queremos abandonar o Cristo que se revela no rosto dos irmãos marginalizados. Preferimos seguir o Cristo que faz milagres e rejeitamos o Cristo quando ele nos diz verdades que nos incomodam e nos convida a abraçar as cruzes cotidianas.
Neste Domingo Vocacional, lembremo-nos dos ministérios e serviços na comunidade. Quando falamos em catequistas, entendemos que são todas as pessoas que trabalham na educação da fé, os que preparam para o Batismo, Eucaristia, Crisma, Matrimônio, visita aos doentes, líderes de círculos bíblicos e grupos de reflexão... Catequistas são todos aqueles que ajudam as pessoas a crescerem no conhecimento da mensagem cristã e os conduzem a uma experiência concreta de Cristo.
Frei Gunther Max Walzer