Homilia - 12/09/2021 - XXIV Domingo do Tempo Comum
Os construtores da nossa vida somos nós. No entanto, a vida é cheia de surpresas, algumas agradáveis e outras muito tristes. Queremos que tudo na vida acabe bem, queremos sucesso, mas muitas vezes temos que enfrentar adversidades.
No caminho da vida nós nos deparamos com o sofrimento, sofrimento pessoal ou sofrimento do outro. Até mesmo o sofrimento passa a ter um sentido. O encontro com a dor e o sofrimento para quem não tem fé é mais doloroso, é marcado por queixas, reclamações e pode, até mesmo, ser marcado pela revolta. É nestes momentos desafiadores do caminho da vida o profeta Isaías nos diz: “O Senhor Deus vem em meu auxílio: por isso não me deixei abater o ânimo (Is 50,7).
Na época de Jesus, muita gente do povo, acreditando nas palavras de Isaías e dos profetas, esperava pela chegada de um Messias. Pensavam que ele viria com poder, força, majestade. Ele derrubaria o poder dos romanos e traria liberdade e prosperidade para o povo. A missão de Jesus era outra e, por isso, um dia, longe do seu ambiente, longe do lago e de Jerusalém, em Cesareia de Filipe, Jesus fez aos discípulos perguntas decisivas, ele faz aos discípulos duas perguntas: “Quem dizem por aí que eu sou?” E a outra: “Quem dizem vocês que eu sou?”. Jesus quer saber a opinião do povo e dos seus amigos. Chegou o momento em que eles deverão se situar diante da pergunta decisiva e que exige de todos uma tomada de posição, um ato de fé.
Pedro acerta a resposta: proclama que Jesus é o Cristo, o Messias. Mas sua imagem não combina com aquela imagem que Jesus vai descrever logo a seguir quando diz: “O Filho do Homem deve sofrer muito, será rejeitado pelos anciãos, pelos Sumos Sacerdotes e Doutores da Lei, vai ser morto e vai ressuscitar depois de três dias”.
Pedro teve a coragem de repreender Jesus, que estava apresentando um jeito “errado” de ser o Messias! Com poder e milagres? Tudo bem! Mas que história é essa de padecer, sofrer, ser rejeitado e assassinado? Pedro tem sua imagem própria de um Messias, ele gostaria de ser o seguidor de um vitorioso e não de um homem fracassado. E ele tenta fazer Jesus mudar de ideia.
Jesus chama Pedro de Satanás. Não é que algum demônio tenha entrado em Pedro, mas naquele momento Pedro se comporta como um adversário de Deus, querendo afastar Jesus de sua missão. Jesus repreende Pedro, que pensa segundo critérios do poder humano e não em sintonia com o projeto do Deus libertador.
O modo de Jesus viver – suas atitudes, seus gestos, suas palavras – revelava uma nova visão das coisas, um novo ponto de partida, uma nova ordem, um novo projeto. Jesus era livre e essa liberdade nos fascina até hoje. Jesus encarnou-se num mundo fechado, dividido, conflituoso... Fez-se presente no mundo da dor: enfermos, pobres, pecadores... e a partir daí propôs um novo movimento de humanização.
Deus não tentou vencer o mal e a desordem política e social com poder e uma demonstração de força. Deus quer mostrar que o mal se vence com amor, um amor que vai às últimas consequências no serviço e na solidariedade.
As duas perguntas de Jesus são dirigidas a cada um de nós também hoje: “Quem é Jesus para nós que queremos segui-lo?”. A resposta será sempre pessoal, mas não deve nunca acomodar-nos aos nossos próprios interesses e se transformar numa fé só de palavras e opinião.
O Papa Francisco, numa homilia da missa celebrada na Casa Santa Marta, disse: “Para responder a esta pergunta – ‘Quem é Jesus para nós’ – não é suficiente o que aprendemos no catecismo. É importante, sim, estudá-lo, mas não é suficiente. Para conhecer Jesus, é necessário fazer o caminho feito por Pedro: depois da humilhação, Pedro continuou com Jesus, viu seus milagres, viu seu poder. Mas, a um certo ponto, Pedro renegou Jesus, o traiu e aprendeu a difícil ciência – a sabedoria – das lágrimas, do pranto”. Pedro pede perdão a Jesus.
A seus Apóstolos e a Pedro, Jesus não disse ‘Conheçam-me!’, mas ‘Sigam-me!’. É este ‘seguir’ que nos faz conhecer Jesus; com nossas virtudes, com nossos pecados e fraquezas, mas segui-Lo sempre.
Jesus propõe o caminho do discipulado: “Se alguém me quer seguir, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e me siga. Pois quem quiser salvar a sua vida, vai perdê-la; mas quem perder a sua vida por causa de mim e do Evangelho, vai salvá-la”. Jesus quer que vivamos a plenitude de noss vida. Para isso é necessário “desapegar-se” do ego. “Renunciar a si mesmo”. No entanto, não se trata de negar o que somos, mas o que pretendemos ser e não somos. Este esvaziamento não significa nossa anulação enquanto “pessoas”,
Jesus nos diz que é preciso tomar a própria cruz para segui-lo. Não podemos interpretam este “tomar a cruz” como desejo do sofrimento ou desejo da morte. O “tomar a cruz” significa pertencer a alguém, no sentido de doar a vida por alguém.
O egoísta, aquele que não “assume a cruz”, não assume o projeto do Reino, destrói-se a si mesmo. O sentido da vida está na cruz, símbolo da oblação da vida. Mas, para bem compreender isso é preciso saber quem é Jesus para mim e transformar a fé em obras.
Quem é Jesus para você?
Parece que, apesar de tudo o que sabemos sobre ele, ainda temos muita dificuldade de aceitar um Messias no estilo do Servo Sofredor. Temos cruzes nas nossas igrejas e nossas casas, mas o que era instrumento de tortura na maioria das vezes virou enfeite. Muita gente continua preferindo um Jesus que resolva seus problemas e garanta proteção sem querer ouvir seu chamado para ser servidores acima de tudo.
É fácil dizer que temos fé, mas a fé sem obras é morta. Jesus deu o exemplo da grande coerência entre palavra e ação e mostrou o grande critério para avaliar a sinceridade da fé: a capacidade de servir por amor.
Rezemos pelo Papa Francisco que, neste domingo, iniciou sua 34ª viagem apostólica, "uma peregrinação no coração da Europa" entre a Hungria e a Eslováquia. Ele participa do encerramento do Congresso Eucarístico Internacional em Budapest e termina sua viagem, na quarta-feira, no Santuário Nacional Mariano da Eslováquia de "Nossa Senhora das Sete Dores".
Frei Gunther Max Walzer