Homilia - 23/01/2022 - III Domingo do Tempo Comum
Muitas pesquisas e pronunciamentos de laboratórios químicos, infectologistas e “cientistas” são feitos e publicados na mídia durante a pandemia. Vivemos num tempo de grande especialização incerteza. Muitos são os “especialistas”. Aquele antigo medico, “cínico geral” como se chama, que cuidava de tudo um pouco, foi substituído pelo médico especialista que sabe mais sobre uma pequena parte da saúde. Mas parece que isso não está dando certo. A própria medicina volta a querer que o nosso corpo seja visto como um conjunto. O corpo e a mente, o físico, o sensorial e o emocional têm tudo a ver um com o outro. Não somos uma máquina de peças isoladas, somos um organismo só. Quando alguma parte da nossa sensibilidade é atingida, o organismo todo sofre, o conjunto todo passa mal. É um pouco como diz a sabedoria antiga: “Tristeza faz mal à digestão!”. Não é só na medicina que a visão harmoniosa do conjunto é importante. Uma cidade funciona bem a partir de um Plano Diretor que considera a cidade como um todo: suas construções, a parte sanitária, a saúde e a educação dos seus habitantes, etc. Uma orquestra não toca bem se algum musico resolver marcar seu próprio ritmo. Não adianta no governo ter alguns setores bem fortes, descuidando dos outros.
Na Carta aos Coríntios São Paulo aproveita a imagem do corpo para mandar um recado importante à comunidade. A Igreja, diz Paulo, é um corpo de membros unidos pelo mesmo Espírito. Muitas vezes, sem perceber, passamos a imagem de um organismo doente, membros contagiados pela corrupção, abusos sexuais, arrastados pelo vício do álcool e drogas.
Certa vez, Jesus lembra que são os doentes que precisam de médico. A missão de Jesus é curar as pessoas de todos os males.
No evangelho de hoje vemos Jesus na sinagoga de Nazaré lendo um texto de Isaías que ele apresenta como seu “programa de ação”. Por isso ele diz que nele se realiza o que a assembleia acabou de ouvir nas palavras do profeta. E o que é que diz o texto? Será que Jesus anuncia: hoje vim para dominar, para ser homenageado e para exaltar os que têm prestígio na comunidade? A preocupação do programa de Jesus é outra: ele veio para curar corações, dar vista aos cegos, libertar cativos e anunciar a boa nova aos pobres, ou seja, veio para que aqueles membros mais necessitados do corpo da humanidade fossem atendidos.
Antes de anunciar a sua missão, Jesus diz: “O Espírito do Senhor repousa sobre mim, ele me ungiu”. Jesus é o Ungido porque vai realizar a missão salvadora. Ainda hoje, entre nós, é esse mesmo o efeito da unção do Espírito. O Espírito de Deus não está entre nós para nos dar prestígio, prosperidade, ou para resolver os nossos problemas. O Espírito de Deus é a força que o Senhor nos dá para sermos sinais desse Reino onde os cativos são libertos, os cegos veem, os corações são curados e a boa nova é anunciada aos pobres. Fazemos isso individualmente ou em comunidade, essa é a função de cada cristão e de toda a Igreja. Um corpo saudável trabalha melhor. O corpo da nossa comunidade terá mais saúde se soubermos viver a colaboração fraterna, o cuidado com os mais fracos e a unidade na diversidade.
É, através de nós, que Jesus age para cumprir a promessa divina. Ele nos dá o seu Espírito para que o nosso coração se liberte dos nossos egoísmos, para que os outros não se sintam mal no nosso coração, para que levemos aos pobres o apoio da nossa ajuda e da nossa partilha, aos cegos a luz da nossa amizade, para que os nossos dias sejam dias de felicidade para as pessoas que encontramos. É a nossa missão de cristãos: que a Boa Nova tome corpo na nossa vida, para que a Palavra de Deus seja viva entre nós.
Frei Gunther Max Walzer