Homilia - 22/07/2012 - 16º Domingo Tempo Comum
Outro dia, assistindo ao noticiário da TV, fiquei pensando, se Jesus estivesse sentado no meu lugar assistindo ao noticiário, vendo esta seqüência de acontecimentos tristes, desanimadores, jocosos, horríveis, como a tragédia nos EEUU., onde um assassino de 24 anos invadiu um cinema, matou 12 pessoas e feriu outras 59 na madrugada desta sexta-feira. Assistindo a esta guerra civil absurda na Síria onde já morreram milhares de pessoas, assistindo à tanta violência , discussões... o que Jesus sentiria? Quem estivesse ao lado de Jesus nessa hora, observaria: “e Jesus está sentindo compaixão, Jesus tem pena do povo vendo toda essa desgraça”.
Deus passou pela mesma experiência. Na 1ª leitura, Deus olha e vê com indignação o sofrimento do povo, enquanto os políticos não dão a mínima para seus sofrimentos. A leitura de Jeremias já começa bem forte, quando o Senhor diz: “Ai de vocês, governantes, que deixam que o meu povo seja morto e espalhado!”. Deus se queixa das autoridades. São maus pastores que dispersam e extraviam as ovelhas do rebanho.
No início da reflexão de hoje está o olhar da indignação. Já o Evangelho nos leva a um olhar de compaixão. Este é o olhar de Jesus, porque sem ele, a indignação poderá transformar-se em raiva, revolta, e produzir atitudes que não estejam de acordo com o Evangelho.
O texto do Evangelho nos relata o retorno dos apóstolos depois de terem sido enviados para evangelizar, como ouvimos no domingo passado. “Os apóstolos se reuniram com Jesus e contaram tudo o que lhes tinha acontecido”. Eles fizeram o que nós também fazemos quando retornamos de uma viagem. Sentamos e contamos o que vimos, o que fizemos, como passamos os dias da viagem.
Pela narrativa podemos notar que Jesus era bom observador: ele percebeu que eles estavam cansados. Por isso Jesus os convidou a descansar.
Descansar do jeito de Jesus: ir para um lugar deserto, solitário, onde pudessem silenciar e rezar. No entanto, como nos relata o evangelho, foi uma tentativa frustrada. O povo chegou antes e quando Jesus e os apóstolos chegaram, já havia uma multidão esperando. Ali Jesus viu aquele povo e se encheu de compaixão, diz o evangelista. É o olhar de compaixão.
Os olhares de Jesus podem questionar o nosso olhar, o nosso modo de ver as pessoas. Primeiro a gente poderia se perguntar: eu sou capaz de olhar e, quando olho, eu vejo o outro? Isso que parece tão evidente não tem nada de anormal. Quando vejo uma pessoa diante de mim eu vejo que ela é uma pessoa que está sofrendo?
Mas, não se trata de um olhar qualquer. Precisa ser um olhar parecido com o olhar de Jesus, que era cheio de compaixão. Será que nós temos os mesmos sentimentos que Jesus teve em relação às pessoas que estão sofrendo? Será que nós temos a capacidade de nos identificarmos com os seus dramas, com os seus sofrimentos, com as suas angústias, com os seus problemas? Assim como Jesus não se preocupou com seu cansaço, nós nos devemos colocar à disposição do outro nos colocar a serviço da necessidade do outro.
Muitas vezes, tranqüilizamos a nossa consciência porque ficamos indignados com os “pastores”, com os políticos e governantes que são negligentes, exploram e oprimem, mas não passamos disso. Talvez nos limitemos a condenar os que erram. Jesus não age assim, não profere palavras agressivas, mas senta-se ao nosso lado e dialoga, entende os problemas e a situação do povo e “começa a ensinar-lhes muitas coisas, porque eram ovelhas sem pastor”(6,34).
Podemos ver nestas ovelhas sem pastor de que nos fala o Evangelho, principalmente, o retrato da juventude de hoje. Parece que, em outros tempos, os adultos sabiam dar conselhos, e que eles mesmos sabiam melhor para onde ir. Parece que os jovens não sabem para onde se dirigir. Será que os pais perderam a autoridade? Não é possível que os jovens sejam piores que os de antigamente.
Mas, não vejo apenas os jovens sem direção; mesmo nós adultos estamos inseguros. Qual é a direção de nossa vida? Onde você quer chegar? Onde fica o porto final de minha viagem no mar da vida? Onde fica o terminal de ônibus que conduz meus sentimentos e minhas ações?
Vejo as pessoas tontas e inseguras, andando pelas ruas, levantando de manhã e se dirigindo ao trabalho, voltando à noite, cansadas e debulhando os problemas que enfrentaram, remoendo todas as coisas que não deram certas.
Vejo as pessoas lutarem para amontoar coisas materiais, sonhando apenas com a segurança econômica, gastando sua saúde e tempo em coisas muito passageiras...
Vejo pessoas que preferem viver na solidão, preferem fechar-se em si mesmas para não serem incômodo para ninguém e para não serem incomodadas....
Onde as pessoas querem chegar com tudo isso? Com o vai-e-vem de todo dia, com os anos que passam, com o físico que se gasta? Qual é a direção de tudo isso? Sempre mais vejo gente perdida. Gente se perguntando: que sentido tem minha vida? Para que estou vivendo?
Diariamente escuto gente dizendo: “Não me entendo mais... Não sei mais o que fazer com minha vida... Estou confuso e perdido... Já não sei mais nada...” Essas pessoas perderam a direção, perderam o caminho, ou andam em caminhos sem saber aonde chegar. Isto leva muita gente a consultar ciganas, adivinhos, Pai de Santo, horóscopos...
Alguém um dia mandou as pessoas pararem um pouco: “Vinde sozinhos para um lugar deserto e descansai um pouco”. E ele começou a ensinar: “Eu sou o caminho... quem me segue não anda nas trevas...”.
A pessoa de Cristo e suas palavras são o caminho. Jesus não nos diz o que vai acontecer amanhã. O Caminho de Jesus se chama amor, perdão, luz, amizade, união, diálogo, compreensão e compaixão.
Assim se cumprirá a palavra do profeta Jeremias: “...não sofrerão mais o medo e a angústia, nenhuma delas se perderá”.
Paulo nos diz, na 2ª leitura: “Jesus Cristo é a nossa paz”.
Como discípulos missionários somos chamados a uma revisão de nosso agir, a uma mudança de paradigmas: do “eu” passemos a dizer “nós”; do “gosto de levar vantagem em tudo” passemos a dizer “O que posso fazer para lhe ajudar?; da relação habitualmente “descartável” com objetos e pessoas, passemos a ter uma relação que resgata, recupera, “recicla” pessoas.
Se conseguirmos transmitir às crianças e aos jovens, em nossos ambientes de violência, de descuido da vida e crise, não só a idéia de que Jesus nos ama, mas se conseguirmos fazer sentir, também, o calor desse amor e dessa compreensão do Senhor, que ficou “com compaixão por eles, pois estavam como ovelhas sem pastor”, creio que os jovens, e nós mesmos recuperaremos a confiança na vida de que nós precisamos.
Frei Gunther Max Walzer