Homilia - 14/05/2023 - VI Domingo da Páscoa
Cada ano o calendário repete esta data: Dia das Mães. Este dia não é apenas uma data ou uma comemoração igual a tantas ouras, o Dia das Mães nos lembra de algo essencial da existência da vida, uma mãe nos deu a vida.
Cada ano flores, almoços, festas, presentes e telefonemas são expressão do nosso carinho e amor. As mães que estão vivas ganham palavras de carinho, beijos e abraços. As mães falecidas ressuscitam nas memórias e nas preces.
Muito conhecido, mas sempre belo e significativo é este episódio: Uma mãe ensina seu filho como fazer o sinal da cruz. Pega sua mãozinha e leva à testa: "Em nome do Pai, FIlho e Espírito Santo. Amém. Repete comigo: "Mas, mãe, onde está a Mamãe?"
A presença física da mãe é importante, mas não é de importância menos importante para nós, sendo filhos e filhas de Deus, e para a vida cristã a presença da Mãe de Jesus. Ou seja: a devoção a Nossa Senhora não é absolutamente um ornamento a mais, mas é indispensável.
O mês de maio é dedicado à Nossa Senhora, Mãe de Jesus e, no dia 13 de maio, destaque especial recebe a devoção à Nossa Senhora de Fátima.
Foram três humildes pastores, filhos de famílias pobres, simples e profundamente católicas, os mensageiros escolhidos por Nossa Senhora. Os três eram analfabetos. Qual era mensagem transmita às crianças: Nossa Senhora pediu ao povo orações, penitências, conversão e fé.
A mensagem de Fátima foi um apelo à conversão, alertando a humanidade para não travar a luta entre o bem e o mal deixando Deus de lado, pois não conseguirá chegar à felicidade, mas, ao contrário, acabará destruindo-se a si mesma. Por isso Nossa Senhora dizia aos pastorzinhos: "Rezai, rezai muito e fazei sacrifícios pelos pecadores!”.
A mensagem de Fátima ainda é atual para o nosso tempo?
Nesse sentido, a mensagem de Fátima não está concluída, pois permanece o grande sofrimento de milhares de pessoas, resta a ameaça à vida de tantas pessoas, que se faz presente não somente através de guerras e da
violência, da miséria e da morte, mas também nas ideologias: relativismo, ideologia de gênero, cultura de morte e tantos outros erros que corrompem as culturas e as sociedades pelo mundo todo.
Para fazer frente a todos esses males, mantém-se atual a resposta que nos foi dada na mensagem de Fátima, persiste a orientação que Maria nos revelou por intermédio dos pastorinhos. Como profetizou Nossa Senhora, nosso tempo está marcado por grandes tribulações. Hoje, o poder das trevas ameaça pisotear a nossa fé de todas as formas possíveis. Por isso, em nossos dias, como outrora, são necessários os ensinamentos que a Mãe de Deus transmitiu aos três pastorinhos.
Assim, as palavras de Jesus, antes de sua partida, foram de grande importância para seus discípulos. Depois da ressurreição de Jesus, os discípulos aos poucos foram se lembrar de tudo o que ele teria dito antes de morrer. Aquilo que acharam importante foi deixado, por escrito, nos Evangelhos. Uma dessas falas de Jesus nós ouvimos hoje.
Durante a última ceia, Jesus “abre o jogo”: diz tudo o que está para acontecer com ele. Os discípulos ficaram abalados ao saber que o Mestre vai desaparecer, e tristes por ouvirem que um deles o traria e outro o negaria. É nesse clima que Jesus se dirige aos discípulos: “Se vocês me amarem, com certeza vão guardar os meus mandamentos, e eu vou rogar ao Pai, e ele vai lhes dar um outro Defensor: o Espírito da Verdade. Ele vai permanecer com vocês. Vocês não vão ficar sozinhos nem desprotegidos, não! Ele vai ajudá-los a descobrir o sentido verdadeiro do que está para acontecer comigo e com vocês”.
Este clima vivido pelos apóstolos na última ceia (tristeza, perplexidade, insegurança diante da morte iminente do Mestre) é um espelho do clima vivenciado pelas comunidades cristãs primitivas também perseguidas, ameaçadas de morte. Este pode ser igualmente o clima das comunidades cristãs de hoje. Ante as forças tirânicas do poder (político, econômico, religioso etc.), quando o jogo de interesses ignora a dignidade humana, as comunidades entram muitas vezes, em clima de instabilidade, insegurança, tristeza e perplexidade.
Jesus, na iminência de sofrer a paixão, mostra que existe uma forma de superar o medo, a separação e a morte: pelo amor: “Se vocês me amarem, com certeza vão guardar os meus mandamentos.”
O que Jesus quer dizer com isso? Um pouco antes, ele havia dito: “Eu dou a vocês um mandamento novo: amem-se uns aos outros. Assim como eu os amei, vocês devem amar uns aos outros. (Jo 13,34). Isto significa: vivendo no amor, a comunidade está amando Jesus e observando os seus mandamentos”
Seguir Jesus significa, muitas vezes, sofrer as consequências que ele sofreu: perseguição, desprezo, escárnio, ódio, injustiça, violência, cruz e morte. Foi o que sofreram as comunidades cristãs primitivas. É o que sofrem as comunidades de hoje, sentindo nelas a tentação do desânimo e, pior ainda, a tentação de abandonar o espírito do verdadeiro Senhor para entrar no jogo aparentemente “mais lucrativo” dos “senhores” que oprimem, são desonestos, corruptos, perseguem e matam. Diante deste mundo que persegue e mata, Jesus nos apresenta um “Defensor”, um Advogado que estará sempre ao nosso lado para nos apoiar na luta de Jesus que agora prolonga a vida dos cristãos.
É este mesmo Espírito que hoje continua orientando as comunidades para a vivência do amor e da justiça, também denunciando, profeticamente, como inimigos do Senhor – e, portanto, já derrotada a sociedade injusta que crucifica e mata o povo, sobretudo, o povo pobre.
Portanto, o Defensor (ou Consolador) é o Espírito Santo que nos une a Cristo e garante a permanência de Cristo em nós, como Cristo está no Pai. Pelo Espírito “que está em nós”, somos levados a viver com Deus e com os irmãos.
O que significa que Deus está em nós?
Uma anedota conta que, certa vez, um mestre perguntou os doutores da Lei: “Onde mora Deus?”. Os homens riram e disseram: “Como você pode fazer uma pergunta dessa? Não é tudo, na natureza e no universo, que fala da presença do seu criador?”. O mestre respondeu à pergunta feita por ele próprio: “Deus mora onde o deixam entrar!”.
Deixar Deus morar em mim significa, ao dizer de Jesus, “amá-lo”. A quem eu amo quero conhecer sempre mais. A quem eu amo quero que esteja sempre perto de mim. A quem eu amo deixo participar da minha vida, deixo morar comigo. Quem ama a Jesus deixa Deus morar nele.
Assim não podemos reduzir a “comunhão” apenas ao ato de receber a hóstia consagrada. Esse sacramento é SINAL daquela comunhão de amor e solidariedade que deve existir entre nós. “Fazei isso em memória de mim”. Por isso nós nos comprometemos a comungar da vida uns dos outros, doando-nos no amor mútuo, no serviço desinteressado e na solidariedade.
A pessoa onde mora Deus e Jesus Cristo manifesta o amor e a paz do Espírito Santo. Oxalá todos possam ver, através de nossos gestos e atitudes, que somos morada do Espírito Santo, morada do Deus-Amor.
Neste mês de Maia, em especial, contemplamos Maria como aquela que foi fecundada pelo Espírito Santo. Maria torna-se exemplo de evangelizadora porque estava totalmente tomada pelo Espírito Santo. Sempre um convite e incentivo para nos abrir à ação do Espírito Santo em nós, deixando que ele cuide de nossas vidas e nos torne evangelizadores sinceros e frutuosos, como foi Maria.
Frei Gunther Max Walzer