Homilia - 29/10/2023 - XXX Domingo do Tempo Comum
Quando se fala em amor, muitas são as maneiras de amar. Às vezes dizer que ama parece com o ato de amar, mas existe um abismo entre eles, que ponte nenhuma parece conectar quando a pessoa não está realmente disposta a se entregar para o outro.
É simples olhar para o lado e ver pessoas que estão juntas mas pouco compartilham de seu mundo pessoal, apenas suprem uma necessidade, uma carência afetiva e preenchem um espaço fazendo com que a solidão possa ser estancada por alguns momentos. Pessoas que dizem qualquer coisa para manter o outro por perto mas não se envolvem com absolutamente ninguém, deixando um rastro de corações partidos.
Amar é construir mas amar também é destruir, destruir aquele império narcísico que reina em cada um de nós e que espera que o outro atenda a todas as nossas demandas.
Para passar do dizer para o ato de amar é preciso primeiro vencer muitas batalhas internas, poder deixar de lado a insegurança e o medo dos próprios sentimentos para então conseguir de fato enxergar o outro e poder se relacionar, confiar e amar.
O texto do Evangelho nos aponta a essência da vida cristã: Amar a Deus e ao próximo. A fé cristã prega o amor como fundamento da prática religiosa. Olhando a nossa realidade, fica difícil falar de amor. Diante de tanta corrupção, roubalheira, violência e injustiça, percebe-se que a gratuidade e o interesse pelo próximo andam em baixa. As relações atuais entre as pessoas giram em torno do dinheiro e do poder.
Entretanto, ainda existe uma chama que insiste em arder. Uma luz que brilha no coração de cada pessoa que tenta fazer o mundo mais bonito, igualitário e , portanto, melhor. Infelizmente, vemos com mais frequência o lado negativo. Coisas boas não viram notícias
Percebemos que não se trata de uma simples legislação mara regular a convivência civil com uma espécie de moral leiga. No Evangelho vem um doutor da Lei e pergunta qual é o primeiro e mais importante mandamento. Jesus responde com tranquilidade e não inventa uma resposta. Diz o que o doutor da lei já sabe, porque está no Livro do Deuteronômio: “Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma e de todo o teu entendimento” (Dt 6,5).
Não era novidade naquela hora, como também não é nenhuma novidade para nós hoje. No entanto, sempre é bom lembrar que o primeiro, o mandamento básico, diz respeito ao amor a Deus. É de amar que se trata, em primeiríssimo lugar, não de usar rótulos, de realizar cerimônias, de assistir à missa, de participar de procissões, de rezar o terço. Tudo isso pode ter sua utilidade e até virá como consequência, mas o fundamental é AMAR.
Jesus proclama um segundo mandamento, que também não é novo; estava no Levítico: “Amarás teu próximo como a ti mesmo” (Lv 19,18).
Jesus diz que o segundo mandamento é semelhante ao primeiro. Por quê? Como diria São João: “Quem diz que ama a Deus a quem não vê e não ama ao próximo a quem ve, é um mentiroso” (1Jo 4,20). É na vivência do segundo mandamento que mostramos o quanto levamos a sério o primeiro. Observar o primeiro mandamento até pode ser mais fácil. Afinal, Deus não incomoda ninguém, não decepciona, não pede ajuda, não precisa ser perdoado. Amar a Deus pode ser algo muito vago se esse amor não nos levar a fazer alguma coisa pelos filhos e filhas desse nosso Pai comum.
Quando Jesus diz que devamos amar o próximo ele se refere a este próximo bem concreto que está ao nosso lado. Jesus não diz que é para amar o próximo bonzinho. É também este próximo mais difícil e pode ser justamente aquele que está bem perto.
A pergunta que faço é perigosa: Será que temos a coragem de fazer um balanço de nossa caridade?
Não gostaria de insistir apenas nas palavras de “amar ao próximo”. O mandamento do Senhor seria incompleto, pois, ele disse: “Amarás ao teu próximo como a ti mesmo” (Mt 22,39). Os dois preceitos ditos por Jesus não devem ser vistos de maneira isolada, como se pudessem ser vividos em intensidades diferentes. O amor ao próximo, para o cristão, é expressão de sua experiência pessoal, sou amado por Deus e me amo porque sou filho e filha de Deus. Isso distancia o amor cristão da simples filantropia, pois não é motivado por sentimentos como pena, mas é motivado pelo sentimento de irmandade que une todos os homens.
Visto dessa maneira, o amor cristão não é simples sentimento, mas é ato concreto para que o mundo seja mais justo e que a partilha aconteça. A cada um de nós cabe, dentro de sua realidade, viver esse amor.
Mas, como viver isso?
Muitas são as maneiras. O importante é fazer o bem. Procuremos criar um mundo melhor para todos.
Frei Gunther Max Walzer