Homilia - 05/11/2023 - Solenidade Todos os Santos
Queremos expressar nossa alegria pela nomeação do novo bispo auxiliar da Arquidiocese de Florianópolis e transmitir nossos parabéns. O Papa Francisco nomeou, nesta quarta-feira, 1º de novembro, dom Onécimo Alberton como novo bispo auxiliar da arquidiocese catarinense, transferindo-o da sede de Rio do Sul (SC). Atualmente, dom Onécimo é o secretário do Regional Sul 4 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB Sul 4) e preside a Comissão para a Juventude em Santa Catarina.
Há poucos dias celebramos o Dia dos Finados, quando recordamos todos nossos irmãos falecidos. Lembramo-nos, com muito carinho e, quem sabe, muita saudade, dos nossos falecidos. Visitamos os cemitérios, levamos flores, rezamos por eles. O “Dia dos Finados”, apesar da tristeza da separação que sentimos, é, de certo modo, um dia feliz. Confiamos na misericórdia de Deus e cremos que nossos falecidos se encontram com Ele, num grande e eterno abraço de amor.
Todos os anos, no dia primeiro de novembro, a Igreja honra todos os santos, conhecidos e desconhecidos. Os Santos “canonizados” oficialmente pela Igreja Católica são vários milhares. Mas existe uma imensa quantidade de Santos não canonizados, mas que já estão na presença de Deus no céu. A eles especialmente está dedicada esta festa de hoje.
Qual é o conceito de santidade que nós temos?
Falar de santidade, em nossos dias, é tratar de uma espécie de heroicidade de pessoas excepcionais. Em nossas igrejas e em nossa vida particular, veneramos santos e santas e, quase sempre, os distanciamos de nossas vidas concretas. Isso nos faz pensar: a santidade não é para mim. Os três conceitos, de certo modo, estão corretos. Ser santo, no passado, hoje e no futuro, exige heroísmo, porque o santo e a santa pensam e vivem de modo diferente do mundo. Por isso, muita gente considera que a santidade não é para nós.
A ideia atual de ser santo mudou graças ao documento “Lumen gentium” do Concílio Vaticano II (Lumen gentium, 39-42) e devido ao empenho do Papa João Paulo II. Além de todos aqueles que acreditamos estar no Céu, a busca da santidade faz parte da vida de todos nós e é nossa vocação de batizados.
Agora nos perguntamos: em que consiste essa vocação universal a ser santo? E como podemos realizá-la?
No “Sermão da Montanha”, Jesus nos mostra o caminho que nos leva à santidade. O texto das “Bem-aventuranças” (Mt 5,1-12) é, sem dúvida, um dos mais conhecidos dos evangelhos. Jesus sobe numa colina, faz sentar a multidão e começa a falar, mostrando oito caminhos que levam à felicidade. Jesus vem nos ensinar, através das “bem-aventuranças”, quem são os participantes do Reino, ou seja, quem são os santos e santas, aqueles chamados a constituírem o novo povo de Deus.
Tudo isso nos faz compreender que, para ser santo, não é preciso, necessariamente, ser bispo, padre ou religioso: não, todos somos chamados a nos tornar santos! Jesus declara ainda que o Reino está aberto a todos que apresentam atitudes bem-aventuradas, por isso, para ser santo não é necessário possuir dons ou capacidades extraordinárias.
Jesus vem mudar o nosso pensamento a respeito da felicidade e santidade. Pois o que para os nossos olhos humanos pode ser motivo de vergonha, humilhação, pobreza, tristeza e lamentação; para Deus é motivo de verdadeira alegria e felicidade.
Nós humanos agimos sempre em busca de uma recompensa, um reconhecimento ou, simplesmente, buscamos alcançar uma meta, um prazer... E é por saber disso que Jesus nos fala sobre as bem-aventuranças, as recompensas que teremos, não simplesmente na terra, mas no Reino dos Céus, na eternidade.
Podemos perguntar: de que valem as coisas da terra, se não nos ajudam a chegar ao Reino dos Céus, nem nos acompanham até ele? Nem sempre quem consegue ter muitos bens e dinheiro, o conseguiu de maneira justa; e estes bens não lhes trarão felicidade verdadeira e duradoura. Pois são recompensas terrenas, prazeres momentâneos, dinheiro que a traça corrói, ouro que o ladrão rouba, bens que ficam na terra e não trazem amigos verdadeiros.
E quem é considerado por Jesus “bem-aventurado” e feliz? Quem é chamado "filho de Deus”? Quem é que “verá a Deus”? De quem é o “Reino dos Céus”?
As pessoas felizes, os bem-aventurados, os cidadãos do Reino dos Céus, são os que têm um espírito humilde, são os “aflitos”, são os “mansos”, são os que têm “fome e sede de Justiça”, são os “puros de coração”, são os “misericordiosos”, são os “que promovem a paz”.
A “bem-aventurança” é uma promessa que já se inicia aqui na terra. A felicidade do Reino começa aqui e agora, entre nós.
Porém, no caminho da santidade não estamos isentos de adversidades, sofrimentos, renúncias, perseguições etc. É disso Jesus também fala: “Felizes os que são perseguidos por causa da justiça, porque deles é o Reino do Céu. Felizes vocês, se forem insultados e perseguidos, e se disserem todo tipo de calúnia contra vocês, por causa de mim. Fiquem alegres e contentes, porque será grande para vocês a recompensa no céu. Do mesmo modo perseguiram os profetas que vieram antes de vocês”.
Como é diferente a lista de pessoas felizes que Jesus nos apresenta no Evangelho! Quem é que o nosso mundo considera feliz? Felizes são os que possuem mansões requintadas, carrões importados da marca BMW ou Mercedes, roupas de grife e de butiques caras, muito dinheiro e uma gorda conta bancária, quem tem muito prestígio, influência e poder. Ser feliz é o mesmo que possuir muitos bens e comprar tudo do bom e do melhor.
Hoje, através da nossa contribuição material, podemos dar nossa contribuição para a beatificação do servo de Deus Marcelo Henrique Câmara.
Quem foi Marcelo Henrique Câmara.?
Nasceu em Florianópolis, no dia 28 de junho de 1979 e faleceu em 20 de março de 2008. Foi um filho e irmão muito dedicado à sua família. Na juventude procurou render ao máximo seus exímios dotes intelectuais, empenhando-se nos estudos. Tornou-se mestre em Direito, atuou como professor substituto da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e como Promotor de Justiça do Estado. No início do curso universitário participou do retiro espiritual do Movimento de Emaús, quando obteve a graça de profunda conversão ao Evangelho. Nos anos
seguintes exerceu intenso apostolado com os jovens do Movimento e na sua Paróquia Sagrado Coração de Jesus.
Buscou santificar-se nos afazeres cotidianos, partilhando as alegrias e carregando as cruzes da sua vida, sobretudo identificando-se com o sofrimento de Cristo no oferecimento da sua enfermidade (leucemia), vivida com alegria e paz cristã.
Sua vida retrata a essência da santidade como a abertura generosa e constante à graça de Deus, e nos abre os olhos para o verdadeiro milagre da caridade, realizando as atividades mais comuns com o coração grande, voltado para Deus, conferindo-lhes, assim, valor de eternidade.
As bem-aventuranças constituem o programa de vida do discípulo de Jesus. Se quisermos uma cartilha do cristão, aí está. Se alguém preferir um manual para ser um verdadeiro cristão, é só aplicá-lo.
O Evangelho de hoje é um sério questionamento para todos nós. As bem-aventuranças de Jesus de Nazaré estão numa franca oposição aos critérios do nosso mundo. Será que eu e você seríamos aprovados no vestibular ou no exame das bem-aventuranças?
Quem de nós vive a Sua verdade? Tentemos!
Frei Gunther Max Walzer