Homilia - 14/10/2012 - 28º Domingo do Tempo Comum
Surpreendeu, na sexta feira passada a premiação da União Européia com o Prêmio Nobel da Paz, justamente, em um momento em que a Europa é abalada por uma forte crise econômica e financeira. A União Européia "contribuiu durante mais de seis décadas para a paz e a reconciliação, a democracia e os direitos humanos do continente", disse o presidente do comitê do Nobel. Conclusão: A paz no mundo não se compra com dinheiro (EURO).
Nos últimos dias a noticia que ganha grande espaço em nossos jornais é o julgamento dos réus do chamado mensalão. Fato que revela a fragilidade da posse dos bens, sobretudo quando são adquiridos de forma desonesta. Conclusão: Com dinheiro até instituições políticas se corrompem.
O Evangelho de hoje destaca um tema atualíssimo para os nossos dias, principalmente nesse tempo da Nova Evangelização e do “Ano da Fé”: a relação da economia com o Evangelho, da riqueza com a mensagem da salvação. Sabemos que não é fácil estabelecer uma relação entre Evangelho e economia. Tudo parece girar em torno do dinheiro. Por causa do dinheiro e de bens materiais se cometem as maiores injustiças e muitas vidas humanas são sacrificadas.
No relato do evangelho, Jesus é abordado por um homem angustiado que deseja ouvir uma palavra para uma preocupação sua. Ele acredita que o “Bom Mestre” resolverá o problema que o angustia. Ele pergunta: “Que devo fazer para que a morte não seja o fim de tudo e como devo proceder para ter a vida depois da morte?”.
Esta é a pergunta de um homem de todos os tempos e mesmo uma pergunta que cada um de nós se faz: o que fazer para salvar-me?
Jesus questiona esse homem se ele sabe os mandamentos.
Este diz que havia cumprido os mandamentos de Deus desde sua infância. “Mestre, tudo isso tenho observado desde a minha juventude”.
Chegando a este ponto, o diálogo fica suspenso no ar. Jesus diz que não é suficiente não ter feito o mal ou prejudicado alguém. Jesus olhou para ele com amor e disse: “Só uma coisa falta a você. Vai, venda tudo, dê o dinheiro aos pobres e você terá um tesouro no céu; depois venha e siga-me!".
O homem não esperava esta resposta. Esperava uma palavra que tranqüilizasse sua consciência, permitindo conviver com sua riqueza.
O homem rico ficou muito abatido e retirou-se desiludido. Ele ouviu de Jesus a resposta para sua angústia: segui-lo numa disponibilidade total. Jesus lhe propôs: “Seja um homem novo e, para isso, abandone as seguranças materiais”.
Ele tinha boa vontade, mas nessa hora não foi capaz de largar tudo e aceitar a proposta de Jesus.
Os discípulos novamente não entendem a mensagem e se assustam com as palavras do Mestre: “Como é difícil para os ricos entrarem no Reino de Deus!”. Num clima confidencial, Jesus lhes revela o perigo das riquezas. As riquezas são um risco, quando acumuladas de forma injusta.
Inconformado, Pedro, em nome do grupo, pergunta ao Mestre: “E nós que deixamos tudo e te seguimos, o que vai acontecer conosco?”. “Quem me seguir, abundantemente será recompensado, no tempo presente e no futuro. Encontrará a felicidade já aqui na terra, apesar das perseguições”, foi a resposta.
Aquele jovem ficou muito triste com a resposta de Jesus, e voltou para o seu mundo de conforto e fartura. Este fato nos ajuda a refletir a Palavra de Deus neste domingo como um convite a buscar o essencial: o tesouro que ninguém pode roubar.
A primeira leitura (Sb 7,7-11) nos lembra o que devemos preferir. A figura de Salomão é lembrada como aquele que soube fazer a opção certa. Ele constata que bens materiais e riquezas não produzem segurança e não realizam a pessoa como ser humano. Quem busca a Sabedoria como o bem supremo, recebe em acréscimo, também os outros bens. “Preferi a Sabedoria aos cetros e tronos e, em comparação com ela, julguei sem valor a riqueza; a ela não igualei nenhuma pedra preciosa, pois, a seu lado, todo o ouro do mundo é um punhado de areia e, diante dela, a prata será como a lama.”
Na segunda leitura (Hb 4,12-13), São Paulo nos lembra que a Palavra de Deus deve ser nosso caminho. Quando colocamos a Palavra de Deus como nosso guia e caminho, estamos fazendo nossa profissão de fé naquele que nos conduz. “A Palavra de Deus é viva, eficaz e mais cortante do que qualquer espada de dois gumes. É a ela que devemos prestar contas.”
Estamos no mês de outubro que é o Mês das Missões. A Igreja nos chama a participar da Nova Evangelização. Nós, como discípulos missionários e anunciadores da Palavra, precisamos ir além do discurso e tomar decisões, ter atitude.
Hoje o Mestre sugere o total desapego dos bens terrenos em vista da liberdade completa para o seguimento. A proposta de Jesus representa um alerta para o nosso tempo em que tudo é condicionado pelo econômico. Tudo gira em torno do dinheiro.
Devemos entender bem as palavras de Jesus. Ele não ensina o desprezo aos bens e às riquezas terrenas. Simplesmente adverte para o perigo de deixar-se dominar por elas.
Somos todos enviados à missão. No entanto, a mudança começa com a gente. Pensamos estar livres das amarras do mundo, mas quando nos é pedido para realmente abrir mão delas, vemos o quanto estamos apegados às coisas terrenas e distantes das coisas celestes.
Quantas vezes nos vemos apegados ao nosso cargo em uma empresa, ao nosso carro, à televisão LCD que compramos, ao laptop que carregamos para todo lugar, ao namorado ou namorada, às roupas de marca e a tantas outras coisas. Todo apego desordenado a coisas e pessoas só tendem a nos afastar das coisas do alto e das virtudes do espírito, pois passamos a ser egoístas, individualistas, interesseiros, fúteis, ciumentos, soberbos e esquecemos de olhar as coisas e as pessoas com simplicidade e amor.
Ser discípulo missionário é entender que o mundo precisa do anúncio do evangelho. O mundo em que vivemos precisa de uma mudança. Uma Nova Evangelização é necessária.
A Nova Evangelização deve indicar esta mudança porque Deus quis para seus filhos um mundo diferente deste que temos.
Peçamos a Deus a graça de sermos libertos de todo apego desordenado aos quais estamos presos aqui no mundo e, dessa forma, busquemos seguir Jesus e ganhar a vida eterna.
Frei Gunther Max Walzer