Homilia - 21/10/2012 - 29º Domingo do Tempo Comum
Nestes dias antes das eleições, podemos observar uma verdadeira corrida para conseguir ocupar cargos e postos de comando. Diversas são as razoes que fazem uma pessoa desejar um posto: ter poder, conseguir prestígio, e, talvez, possuir uma mina de ouro (dinheiro). Mas, ainda, há pessoas que querem servir. Ser bombeiro para salvar vidas é diferente de ser bombeiro para ser visto como herói pelas pessoas. Ser um professor exigente para ver os alunos progredirem é diferente de gostar de ser temido pela turma.
Às vezes as pessoas misturam muito as coisas: dominar e servir se confundem, prejudicando as relações humanas. Parece que o gosto de dominar e a cobiça por dinheiro andam juntos. Somos também habilidosos para inventar desculpas para esconder a nossa própria vaidade. Até a religião nos pode expor a esse risco.
Os apóstolos, pessoas escolhidas por Jesus, não foram um grupo perfeito, mas gente como nós, com todas as imperfeições e mazelas humanas que descobrimos dia a dia em nós mesmos.
Tiago e João, no relato do evangelho, tentam um golpe baixo: querem conseguir de Jesus a garantia de um lugar especial no céu, passando na frente dos companheiros. Resumindo: querem domínio até na vida eterna!
Jesus parece ser perplexo diante dos pedidos dos dois e diz: “Vocês não sabem o que estão pedindo”.
Logo, em seguida, Jesus lhes faz uma pergunta: “Vocês estão dispostos ou não a sofrer o mesmo que acontecerá comigo?”. Eles muito seguros dizem que sim. Jesus toma a palavra e confirma que vão sofrer muito, porém esclarece também que é o Pai o que decide quem vai ficar a sua direita e a sua esquerda no Reino de Jesus.
Os outros discípulos, que participaram da conversa, ficaram chateados com os dois irmãos. Mas porque ficaram indignados? Porque o pedido dos irmãos não tem sentido ou porque eles desejavam também ocupar aquele lugar? O texto não esclarece isso, porém pela explicação posterior de Jesus feita a “todos”, parece que os outros dez não estavam muito longe do que Tiago e João pediram.
Jesus apresenta um exemplo mais claro, o dos chefes e governantes. Eles servem de anti-modelo, ou de exemplo contrário. Utilizam o seu poder para tiranizar os povos, e os grandes não fazem outra coisa senão oprimir os seus súbditos. Jesus foi bem taxativo: “Mas, entre vocês não deverá ser assim”.
Não quer ver entre os seus nada de parecido: “Quem de vocês quiser ser grande, deve tornar-se o servidor de vocês, e quem de vocês quiser ser o primeiro, deverá tornar-se o servo de todos” (Mc 10,43). Jesus responde a Tiago e João que não tem privilégios a oferecer; o que ele tem é uma missão que exige sacrifícios. Também não garante honrarias para ninguém, não é um político disposto a favorecer amigos.
Na sua comunidade não haverá lugar para o poder que oprime, só para o serviço que ajuda os outros. Jesus não quer chefes sentados à sua direita e esquerda, mas sim servidores como ele, que dão a sua vida pelos outros.
Jesus dá tanta importância ao que diz que se coloca a si mesmo como exemplo, pois não veio ao mundo para exigir que o sirvam, mas “para servir e para dar a sua vida como resgate em favor de muitos” (Mc 10,45). Jesus não ensina ninguém a triunfar na Igreja, mas a servir dando a vida pelos mais fracos e necessitados.
Assim, Jesus desmonta qualquer esquema de poder, não fala em vitória, mas em fracasso e derrota, não fala em tomar e conquistar o mundo, mas em dar a vida.
Comunidade cristã é por excelência lugar de serviço, de dar a vida pelos irmãos, de entregar-se a serviço do evangelho de Cristo, com toda coragem e desprendimento.
Nesse domingo celebramos o “Dia Mundial das Missões”. Sabemos que a missão é um grande serviço prestado pela Igreja, semeando as sementes do Evangelho no grande canteiro do mundo, para que a humanidade possa participar da vida plena que Deus nos oferece.
Na concepção popular, ainda persiste o conceito de missão como um “trabalho” feito por padres, religiosos e religiosas abnegados, capazes de deixar sua terra natal para trabalhar em terras distantes e entre povos estranhos.
Ligado a esse conceito, está aquele de missão como estratégia da Igreja para se expandir geograficamente e conquistar mais adeptos.
Devemos mudar nossa concepção da missão. Assim, a missão é a continuidade do projeto que Jesus trouxe ao mundo, através de atividades missionárias da Igreja.
Qual é o objetivo da missão na Igreja? É redimir a humanidade através da evangelização, propondo o Evangelho como projeto de vida, semeando os valores do Evangelho nas sociedades do mundo.
O tema desse “Dia Mundial das Missões”, proposto pelo Papa Bento XVI é: “Chamados a fazer brilhar a Palavra da Verdade”.
Podemos perguntar: O que é a Verdade? — É uma pergunta difícil de ser respondida, porque vivemos num mundo dominado pela ideologia do relativismo. Essa ideologia explica que tudo é relativo e, se tudo é relativo, não existe uma VERDADE, mas existem opiniões, existem pontos de vista que podem ser verdadeiros para mim e não para você.
Para quem se faz discípulo e discípula do Evangelho, a Verdade é Jesus e as palavras da Verdade são as Palavras de Jesus, que se encontram no Evangelho. Por isso, esse “Dia Mundial das Missões” convida a iluminar o mundo com a luz que vem de Jesus, com a luz que vem do Evangelho.
Estamos numa sociedade que não suporta nenhum tipo de imposição, nenhum tipo de contradição aos valores que julgam ser os melhores.
No contexto da “Nova Evangelização”, o modo de evangelizar essa sociedade não é impondo e nem provocando discussões inúteis, mas iluminando-a com a luz do Evangelho.
Na mensagem do Papa, a Nova Evangelização, que se realiza como uma missão na sociedade de hoje, pede que nos iluminemos com a luz do Evangelho, para ser luz onde quer que vivamos.
Se me perguntarem: O que significa ser missionário hoje? Respondo: Significa comunicar e anunciar o amor de Deus num mundo tão desorientado, num mundo que procura prestígio e homenagens, num mundo marcado pela arrogância e disputa.
Somos discípulos missionários, quando somos irmãos. Quem se sente irmão não pode sossegar perante as necessidades dos outros. Pelo contrário, como irmãos temos que mobilizar recursos e desencadear ondas de solidariedade. O resultado vê-se na partilha de nossos bens, na dedicação do tempo, e não tanto nas organizações do poder.
Rezemos para que Deus nos dê força e coragem de viver nossa missão de amor-serviço com todo o nosso empenho.
Que assim seja! Amém.
Frei Gunther Max Walzer