Homilia - 16/12/2012 - 3º Domingo do Advento
A terceira vela que acendemos na coroa de Advento nos faz sentir a proximidade da festa da vinda do Senhor. “Alegrai-vos! O Senhor está próximo!”. Por isso, este domingo é chamado “Domingo da Alegria”.
No entanto, devemos reconhecer que o Natal não é mais uma celebração só religiosa e cristã. O Natal tornou-se uma festa humana, universal, com uma vasta variedade de motivações e celebrações. As famílias reúnem seus membros em redor de uma mesa farta. Organizam-se campanhas em favor dos necessitados. As pessoas preocupam-se com presentes. É pena que o espírito de consumismo tenha invadido o coração da maioria das pessoas. Assim perdeu-se o sentido profundo do Natal manifesto na simplicidade e na pobreza de uma manjedoura em que nasceu Jesus.
De toda maneira, nós que somos cristãos devemos valorizar o verdadeiro sentido de Natal que se manifesta nos presépios, em nossas músicas natalinas, nas novenas nas casas, na leitura da Sagrada Escritura e na oração em família feita na hora da Ceia e na troca de presentes.
Na primeira leitura, Deus faz uma declaração de amor a seu povo através do profeta Sofonias: “O Senhor, teu Deus exultará de alegria por ti, movido por amor” (Sf 3,17).
Preparar o Natal que vem chegando é tomar consciência deste Deus que nos ama. Acima da agitação e dos preparativos do Natal, muitas vezes meramente comercial, está esse amor que devemos comunicar e partilhar com os outros.
A carta de São Paulo retoma o tema da alegria de ter o Senhor tão próximo e tão interessado por nós: “Alegrai-vos sempre no Senhor; eu repito, alegrai-vos!” (Fl 4,4).
Vivemos num mundo cansado e angustiado, e é, justamente, este mundo precisa dessa alegria, dessa paz de Deus que São Paulo diz que “ultrapassa todo o entendimento”. Cada um de nós, além da ação individual, tem um laço com essa missão da Igreja.
Hoje, nos é apresentada uma das formas concretas de colaborar com o anúncio do Reino: somos convidados a contribuir na medida de nossas possibilidades com a coleta da Campanha da Evangelização.
Mas há muitos outros modos de nos engajarmos na tarefa da evangelização; a própria construção de laços fraternos na comunidade é um testemunho do amor de Deus. Fica difícil acreditar no amor de Deus anunciado por quem não sabe amar, por quem não tem sensibilidade para o outro, por quem cultiva preconceitos, prejudica os irmãos ou, simplesmente, não se importa com eles.
No Evangelho de hoje, vemos várias pessoas fazendo a João Batista uma pergunta muito simples, no entanto, importante: o que devemos fazer?
Todos nós, algum dia, já fizemos essa pergunta. João não dá uma resposta vaga, do tipo “façam o bem e evitem o mal”. As respostas podem ser aplicadas à situação concreta de cada um. À multidão João Batista dá uma resposta que serve para todos: quem tem comida ou duas túnicas (bens materiais) reparta com quem não tem. Isso é básico, a partilha é fundamental para nos sentirmos família com os outros filhos de Deus. Depois João Batista vai particularizando as orientações. Aos publicanos, cobradores de impostos, diz que não sejam corruptos, que não cobrem mais do que o imposto prescrito. aos soldados, que usam armamento, manda que não usem a violência e não compactuem com a injustiça.
Podemos imaginar que outras orientações João daria se vivesse hoje entre nós. O que será que ele diria aos políticos? Aos cientistas? Aos pais e professores? Aos funcionários e operários? Aos motoristas? Aos jovens?
Percebemos, no entanto, que João não cai na tentação de ter resposta para tudo, nem de se sentir simplesmente “o máximo”. Sente-se insignificante diante daquele que virá: “Eu não sou digno de desamarrar a correia de suas sandálias” (Lc 3,16). Ele sabe que seu papel é apenas de preparar o povo para a chegada do Messias.
João Batista nos impressiona também porque respeita a individualidade das pessoas. Ele insiste em preparar o caminho do Senhor, mas deixa as pessoas chegar a Jesus cada um de sua maneira. Cada pessoa tem o seu encontro próprio com Jesus e o relacionamento com Jesus é diferente do nosso: não somos a medida e o molde da fé e espiritualidade alheia. Assim temos hoje na Igreja, e fora dela também, diferentes espiritualidades. Garantindo a unidade no essencial, a diversidade nos enriquece se soubermos conviver e nos respeitar como irmãos.
À pergunta “o que devemos fazer”, João Batista tem uma resposta e indicação diferente para cada um de nós. Você como pai ou como mãe, você casado ou solteiro, você aposentado ou profissional, qual é o compromisso novo que deve assumir no Reino de Deus? Você que é jovem, que está preocupado com o vestibular ou com o seu futuro, já descobriu o lugar de Deus em sua vida?
João Batista, certamente, quando fala em conversão e mudança de vida, não quer que a nossa conversão seja apenas da boca para fora ou de sentimentos. Ele pensa numa conversão que se realiza através de atos concretos, através de ações a favor de nossos irmãos.
Quem segue o Cristo não pode apenas se perguntar “em que devo crer?”. Cristianismo não é apenas “ter fé”. Cristianismo é vida, é ação.
Neste domingo, poucos dias antes de Natal, devemos perguntar: o que devo fazer para que Cristo possa nascer e estar presente em minha vida e na vida dos outros?